sábado, 13 de dezembro de 2008

Da série: Poesinhas

Poesinha da amizade

Jamais ficarei só
No espaço
Nem andarei sozinho
Nesse passo
Pois terei na eternidade
Amizades...

Para Joatã e companhia
E para os amigos, longos, médios, grandes e curtos

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série: Poesinhas

Poesinha do sorriso

eu não sei o que faz você sorrir
só sei que o teu sorriso
faz o meu surgir...

sábado, 22 de novembro de 2008

Da série; Poesias inúteis

Não me perguntei, ainda
Se o teu nome de flor é pra combinar
Com o cheiro, visão ou paladar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Desculpa

Culpa? Culpa de que? Culpa para que? Dispenso todo esse falatório em prol dos que não me culpam...
Quem liga, quem realmente liga, para os que me culpam? Quando eu sair daqui, livre feito a mais leve das plumas, quando eu , cegando de luminosidade, for embora para, creio eu, não mais voltar, toda essa culpa ficará para trás e eu vou rir e apenas assistir aos que apontam dedos acusadores ao nada.
Então os desavisados, ao chegar depois de mim, virão a mim com perguntar como “pra que serve isso tudo?” e eu, displicentemente e muito mais com gestos que com palavras, explicarei que aqui não há culpa, na verdade, nunca houve culpa, tudo foi perdoado muito antes deles nascerem e eles, enganados pelos que lhes apontaram injustamente os dedos, entenderam, enfim, que era muito melhor ter vivido sem toda essa culpa.
Resguardem-se ao direito de culpar aqueles que lhe culpam por te culparem, porque eles é que são os verdadeiros culpados dessa vida besta.

sábado, 23 de agosto de 2008

Culpa

Eu me desculpo por tudo mesmo quando não tenho culpa. Virou hábito. Acho que é por tudo que eu já fiz de errado, bem, talvez seja, talvez eu não me sinta desculpado quando as pessoas me desculpam, então eu me desculpo de novo, me desculpo pelos erros, pela demora, pelo fim inesperado de uma conversa, mas pior do que pedir desculpas e não aceitar o “desculpo” é quando você mesmo não se desculpa. Eu nunca me desculpo, em geral, mas quando não tenho o que dizer, eu peço desculpas, e quando sou desculpado, não aceito. Não aceito, mas pior, eu mesmo não me desculpo, eu queria sempre ter o que dizer, eu queria sempre saber o que dizer quando me pedem opinião, quando me pedem para escrever, eu queria sempre ter a inspiração para continuar a deixar as pessoas mais leves.

Tudo, tudo vai embora com o tempo, principalmente os cabelos, mas a culpa fica quando não se se desculpa.

Continua...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Morte

Morte a todas as coisas grandes de mais, morte a tudo que não cabe no coração. Morte a morte, mas sim a morte em vida, sim a morte natural, não a eutanásia de todos os dias, parem de se matar, mortais, parem de morrer, viver antes disso deve ser melhor.

Morte a todas as coisas grandes de mais! Morte as coisas sem razão, morte as coisas sem emoção, morte a saudade colossal, tirana, continental, matem as pobrezas de espírito e também as distancias... O que elas fazem aqui?

Morte a todas as coisas grandes de mais. Morte as dores colossais, as tristezas gigantescas e as preocupações que de tão grandes são tão bestas. Mas morte apenas ao que não cabe no coração.

Viva as coisas tão perto que não se pode tocar, viva as pequenas coisas, os clipes de papel, as palhetas de violão, os lápis apontados até o final, viva a vida vivo.




Em tempo: tem quem seja tão grande que cabe em qualquer lugar. Inclusive no menor dos corações (pobres dos que não entendem a grandeza das coisas vivas)...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Depois

Das coisas mais importantes que se pode fazer o que importa é realmente fazer alguma coisa. O significado de deixar as coisas para depois é adiar o que se pode fazer agora e correr o risco de nunca mais fazer nada. E as pessoas costumam aprender isso do modo mais difícil.

Mas não é bem sobre esse depois que eu queria falar hoje. Hoje eu queria falar sobre o depois da certeza, o depois que diz que ainda vai voltar, “te cheiro depois”, “até depois” esse é o bom “depois” que se opõe aquele outro da preguiça.

Depois de tanto tempo, depois de mudar tantos ares, depois de tantos amares, depois de tanto o coração ficar corado, a gente tem certeza que nunca mais vai se perder por tantas vias arteriais e avenidas, a gente sabe que depois, depois vai sempre encontrar nosso lugar.

A gente encontra nosso depois certo na leveza delicada de mão dadas e nunca nas suposições mal arrumadas que às vezes insistimos em formular. O depois certo onde o silêncio é só uma confortável parada para tomar ar (e, às vezes, para perder ar...) e não trégua de alguma disputa sem sentido.

Nós não somos senhores de nossas suposições, muito menos de nossas certezas incertas.

Incertas mas nunca vazias e aí está a beleza do “depois”, ao menos temos a segurança que esse depois de algum modo é desejado e mostra que pelo menos alguém gostaria de ver o depois e que ele seja como se desejou...

domingo, 11 de maio de 2008

Eu só queria ter um lar

Era um barco muito pequeno. Na verdade, se não fosse pela sofisticação do designe, pareceria muito mais uma jangada do que um barco. O timão ficava na parte de tras, já que o tripulante solitário teimava em dizer que a embarcação tinha uma parte de tras e outra da frente, na verdade, ela era tão pequena que nem um “meio” ele dizia que aquilo tinha.

O marujo decidiu que aquela era a vida que queria ter: viajens e mais viajens, praias e mais praias, incontáveis noites e dias no mar pra depois aportar em algum lugar que lhe parecesse acolhedor.

Ele realmente gostava dessa vida... hora essa, a quem eu penso que estou enganando? Eu mesmo amo essa vida! Mas que engano achar que a vida é só isso. Esse mar que tanto me encanta, pelos perigos, pelo desconhecido, é a melhor metafora para mim.

Desconhecido. É isso o que sou. Apenas isso. Eu me desconheço todos os dias quando me olho nos olhos do espelho, cada dia mais careca, e o espelho do barco balança a cada onda, eu me desconheço mais ainda. Eu sou tão fragil e ao mesmo tempo tão descuidado comigo mesmo.

Qual é esse lar que eu queria ter?

Eu queria ter um lar pra navegar. E é isso que eu encontro sempre quando sinto certo cheiro tão familiar que eu fiz questão de decorar. Eu encontro esse lar sempre de manhã quando acordo e me pergunto “o que eu vou fazer de especial hoje?”

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Junto

Agente é feliz junto, junto de todas as nossas trapalhadas, de toda minha falta de memória, de toda essa coisa doida que é querer morrer de puro, querer morrer de puro amor, juntos, junto agente arruma as coisas e vai embora, agente se arruma, agente se segue.
Todo dia dividir carinho e agora dá certo agente assim sempre por perto com o nosso canto, com o nosso canto agente muda esses ares.
Corpos juntos um pouco mais e todo esse lugar deserto. Toda essa sala deserta, com tanta gente na cozinha.
Hoje eu coloquei meias novas, me arrumei todo, camisa sem história, hoje ela terá uma.
Fazer feliz da beira da palma da mão até a orelha e dali até o fim do mundo e um pouco mais só pra mostrar que todas essas imaginações e devaneios são válidos e essa fala, que não tem nada a ver com nada, é só pra deixar o texto maior mesmo.
O que parece atrapalhar são todos esses controles.
Eu imagino: mesmo que eu não pise o pé no chão esses teus vôos nunca vão me assustar, pode continuar voando, eu arrumo umas asas para agente se seguir, feliz.
Aí vai tudo que cabe:
Doce de limão
Um abraço, mão e mão.
Um bom refrão
Tudo tão doce!
Se agente não cabe num só lugar, vamos nos mudar! Mas sempre sem ter cabimento e sempre cabendo dentro de nós.

domingo, 30 de março de 2008

Da série: Poesias ruinzinhas

Hoje descobri

Que ainda tenho olhos de criança

Que nem mesmo essa distância,

De tantos anos e amores,

Tiraram da minha vista

Os castelos de areia,

Os lençóis feitos capas

Os quadrinhos de cada revista...

E meu coração, eu tinha que falar dele,

Pois nele, ele, estava cheio de esperança.

Então vou ficando por aqui

E riscando esse verso feio e clichê, sem discrepância,

Para voltar a pensar em quem me fez reencontrar a felicidade de infância.

Reencontro

Reencontro as velhas peças de xadrez, os bonecos faltando membros, mutilados pelo cachorro, reencontro as bolas de gude, os desenhos em papel amarelado, as antigas cartas de amores passados, que, sem eu saber, já estavam todos fadados ao fracasso...

Reencontro velhos amigos de infância que, com sede de novas histórias, põem-se a formular perguntas começando sempre com: “há quanto tempo?” e eu me ponho a responder, carrancudo: “se eu fosse tão importante, você saberia...”

Reencontro coisas novas. Coisas que eu pensava velhas surgem tão belas, encantadoras e originais quanto o velho nascer do sol,

Reencontro, por fim, aquela felicidade de infância, que passou tanto tempo perdida em meio a bagunça da vida, aquela felicidade que só se encontra quando se espera pelo sol.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Dia de Eclipse

Que dia triste...
Não pela chuva ou pelas nuvens
Nem por esses olhares de ninguéns
Transeuntes e vai-vens
Nesse dia triste, ele insiste
Não desiste, não acaba
Desaba, vai!

Garrafas d’água. Segunda marcha,
Devagar...

Esse dia insiste em me dizer
A cada hora que cada minuto
São sessenta segundos que insistem em viver
Peito em bater, e os olhos sem ver
Eclipse de você...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Noto

Notei como é bom ouvir-te dizendo meu nome.

Notei as asas saindo das suas costas quando você levantou vôo, só para me deixar boquiaberto com tanta beleza. E você voa logo agora que estava tão perto? Vai seguir nuvens? Fazer tempestade? Ou realmente trazer o sol de volta nos olhos? Nos seus e nos meus.

(Nos seus e nos meus sonhos repicarão os mesmos sinos, passará o mesmo tempo, quebrarão as mesmas ondas, virá dourar o mesmo sol, pratiar a mesma lua).

Notei teus dedos delicados, devagar, desfiando as notas do vento enquanto passavam pelo ar.

Esse olhar de apaixonado que nota tudo que vê...

Essa foi a primeira que notei. Notei meu próprio olhar.

Notei, lembrei de notar, lembrei de anotar todas as coisas bonitas que eu pensei de manhã, anotei-as no braço, por falta de papel.

Eu torço tanto pra isso tudo fazer sentido, sabia?

Todos os poemas, todas as canções bem letradas, todas as tiradas.

Toda essa coisa melosa, eu torço para que elas não te assustem, como assustam declarações exageradas de primeiro encontro.

Note! Note como fico vermelho, me note pelo espelho ou pela telhinha do mp4, apenas note, já vou me satisfazer.

Note o brilho dos olhos, esses são mais difíceis por causa dos óculos, mas tente, já vou me satisfazer.

Note, mas, se não notar, vou bater em tua porta, te chamar de “boba” e te calar a boca com um segredo que já sei e decorei.

quinta-feira, 6 de março de 2008

História "Mel(osa)"

Escrevo essa história melosa.

Eu adoro parágrafos com uma frase!

Assim como quem não quer nada, me olha. Eu adoro aquele olhar quando olha pra mim!

Esse olhar é nau rápida, aval da minha alegria, me trás as iguarias todas: teu beijo raro, teu amor ralo, isso tudo, fica só para mim!

Tudo que faltar agente inventa, se ficar pouco agente multiplica, se impossível for, agente imagina, até!

As músicas no rádio só tocam essas histórias insinceras, besteiras discretamente escondidas por de trás de melodias mal arrumadas.

Por favor, esqueça o cara que despeja, esqueça as propagandas de cerveja, esqueça tudo que for fútil, o que vale mesmo é sentar e ver as flores crescer.

Mexer nessa sua complicação de cores usando pinceladas de flores, deixando tudo num colorido de tom rosa-esverdeado.

Flores, flores, flores... Fico aqui pra ser o jardineiro, e cultivar cada batida de teu coração feito o mais belo canteiro.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Nem sei

Desapareço lá. Onde é lá? Lá é onde eu perco meu tempo, lá é onde eu nem sei de nada. Eu nunca quis sair de lá, eu nunca quis entrar de cabeça em nenhum outro lugar.

Garanti ao último sufoco que não deixaria encardir. Manteria sempre aquele tom de vermelho no peito, aquele gosto de romance antigo, e eu sempre cumpro promessas, por mais absurdas, por mais que as achem inúteis, eu as guardo lá onde eu faço desaparecer por fragmentação as preocupações, lá onde eu nem sei.

Garanti ao meu último sufoco que não me deixaria desistir, que não me abateria por tanto desespero, que continuaria a cantar e compor belos versos, disse que iria espalhá-los por tempos, ventos ou ouvidos (sussurrados a pés de ouvidos) e que não iria desaparecer com eles lá.

Onde é lá? Lá é onde ficam todas as cartas de amor não entregues, picotadas pelo próprio entregador. Lá é onde ficam todas as músicas bonitas que eu esqueci de cantar que eu fiz questão de anotar, numa folha ou no papel higiênico, montes de anotações. Acho que é disso que lá está cheio.

Não direi a que vim, porque deixei lá, lá está aquilo que eu não quis, aquilo que eu escolhi guardar, nunca confidenciar, esconder até de mim mesmo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Rédeas (ou ‘Uma dose de Coragem com açucar’)

Tomar Coragem... Eta bebida amarga! Coragem para parar, coragem para continuar, coragem para dar um passo em falso em meio ao turbilhão que é esse meu coração... Esse cara [o coração] sempre vem nas minhas conversas... Outro dia me peguei falando dele para o vigia aqui da rua...

Tomar minha vida... Tomar minha vida por minha! Ter coragem de reclamá-la a todos os meus amores passados que ficaram com um pedaço dela, feito fatia de bolo, bolo da moça, por favor... Eta vida boa!

Tomar uma dose extra de amor... Uma dose quase fatal, Sr. Doutor! Não, não me salve, não quero tomar remédios, eles só vão piorar meu estado...

Tomar o som... Domar o som... Esse som que sai de todos os locais nesses momentos... Pequenos momentos especiais, pequenas músicas bem letradas. Viva esses momentos, um viva a esses momentos, viva todos os primeiros beijos, viva a todos os primeiros beijos...

Tomar as rédeas... Domar a vida... Prefiro fazer isso... Ela não vai me levar aonde quiser, por caminhos que eu não quero, eu quero é escolher, eu quero saber tudo pelo coração, mesmo que ‘tudo’ sejam todos os amores passados, aqueles que tinham prazo de validade, feito algo perecível, que está vencido pelo tempo a meia-noite do dia impresso na embalagem...

Tomar as rédeas... A vida é minha, eu dou pra quem eu quiser e eu dou a ti, que adoçou minha dose de coragem.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Te darei um ponto.

Dar-te-ei um ponto.

Serás, a partir de hoje, ponto final em minha vida e não mais colocarás ponto final em minha vida, não mais pontuarás com a intenção de acabar comigo, não me olhe assim, fique fora do alcance da vista, nem sei por que faço isso, será que estou certo?

Dar-te-ei um outro ponto!

Será um ponto de exclamação, colherei a rosa mais bela que eu encontrar para fazer do caule o traço, e de um pingo de lágrima o ponto logo abaixo, e assim enfeitarei minha noite com a estrela que houver ou que convir, essa noite não tardará a chegar, e toda a ternura que quero estará lá.

Dar-te-ei um último ponto?

Sim, darei. E esse será tão certo quanto um ponto de interrogação, ele pergunta se eu quero ter a alegria de quando se vê um barco voltar, trazendo do mar o marinheiro ou o náufrago, a notícia de além-mar.

Nunca fui muito informado, só sobre mim mesmo, meus olhos são que só olham pra dentro.

Dar-te-ei, enfim, ponto.

O ponto de interrogação se desdobrará quando eu vir o barco vir sozinho, trazido pela correnteza, tristeza esquecida já não bate com essa visão, a estrela que eu encontrei para me guiar já apaziguou o desespero e encheu de luz a noite, a estrela fez-se sol.

Volto a ser sem ninguém de bom grado todas as noites, pois sei que a lua sempre vem socorrer os loucos, os solitários e os poetas, e todos os demais eus.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Astronauta da Saudade

(sim, esse nome é muito, muito, muito brega!!!)

Esse olhar das estrelas pela minha janela, sempre aberta, elas são a salvação da noite, o refúgio do meu próprio olhar.

Meu martírio é só ter que fechar os olhos cheios de amor, na ausência de luz, a cortina se fecha para dar início à nova cena e enquanto ela não abre de novo, eu fico eclipsado das belas estrelas que deslizam no palco.

Estrelas são aquelas coisas cheias de sentimento, rajadas de luz, apaguem as luzes da nave e me deixe vê-las!

É pena elas não estarem ao alcance do som...

O vácuo não me deixa tirar um som para elas...

Saudades do tempo que eu era criança, quando uma delas morava na esquina lá da rua...

Saudades da Terra que não insistiu em continuar ao alcance da vista...

Saudades de quem eu deixei para trás em anos de viagens intergalácticas...

Só restaram as estrelas, estas, insistem na solidão do espaço, insistem, esses pontos de sentimento...

Essas estrelas insistem em me lembrar, aí é quando eu descubro que elas são as lembranças!

Essas estrelas insistem em me salvar, aí eu vejo que elas são meu refugio para todas as horas, na imensidão toda hora tem estrela!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Como se chama isso?

Já imaginou se fosse tudo tão simples como se diz?

Que imoral sou eu, nesses versos metrificados, brandos, irracionais, vândalos, suplicando-lhe a atenção que eu nunca poderia suplicar. O que tem debaixo do travesseiro? Mãos que apertam uma folha de papel amassada. Nunca entregue? Ou um monte de esperanças pisoteadas na confusão que foi o dia? O que tem acima? Só aquele que despedaça o tempo que gastou. Só aquele que não sabe qualquer ponto de fuga. Só aquele que queria ter seu próprio manual de instruções, perdido por paraguaios no ato da construção. Aquele em (um) curto(-)circuito, que leva sempre, torto, ao mesmo ponto. Seu pensamento duvida, sua vida, a deriva no espaço sideral.

E os passageiros já são dados como perdidos, já se dão como perdidos. Um monte de coisas desgastadas pelo uso e pela falta de manutenção, só óleo seco, talvez alguns rabiscos de criança, que, já e ainda amarelos, se mantêm a gritar tentado trespassar o barulho da solidão dos dois últimos passageiros que se esfaqueiam, não em assassínio, mas tentando cortar os próprios pulsos, só a querer morrer primeiro, sem querer ser abatido pelo desamparo total ou distorcido pela loucura que será seu dia final sozinho.

Esse mundo não é meu, esse mundo nem é seu. Perderam um ao outro em pensamento e emoção, se agüentam, arrumam desculpas para continuarem vivos, olham pelas portas e janelas e vêem a terra se tornar cada vez maior, um olho azul com o fundo invertido, o olho não tem um minuto de paz, olhado, despido, feito eu fiz com o meu próprio sentimento, "eu" já é tirano, vil, imoral.

Já imaginou se fosse tudo tão simples assim? Ele imaginou o amor, mas não era realmente o amor, era só fingimento de alegria, era só a chuva garoante, o animal rastejante, venenoso atraído pela flauta do domador, talvez um teatro improvisado pela sua mania de ator que deixou a casa vazia, a cama fria, e condenou seu fantasma a rondar o cobertor.

Para não sofrer, para não chorar, foi egoísta, mas o auge de seu egoísmo era ajudar.

Ela sempre foi aquela que ele sempre sonhou.

Ele percebeu que sempre se enganou.

Ela foi ao seu lado para abrandar a dor.

Ele olhou e viu a origem do desespero.

Ela está no sonho belo dele.

Ele esta acordado.

Ela foi ao seu lado quando chamada.

Ele chamou e foi atendido.

Ele chamou e foi atendido, mas não por ela, e sim por aquela em seus sonhos, a que compartilhava de seu mesmo egoísmo, multiplicava-lhe os dons, não lhe riscava os defeitos, mas dividiam laranjas, amarrava fitas nos dedos, sem metas, lançava sorrisos e ele agarrava. Enfim, para a felicidade não existem palavras só garranchos, rascunhos, rascunhos que não chegam a integrar o lixo, mas passam da consistência do papel, rasgam a barreira entre ele e o céu. Isso se chama felicidade.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Poucas palavras não fazem a beleza do silêncio

Como será que cabem tantas palavras em um gesto?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Textos Tristes

Eu já não faço por diversão, faço por necessidade de expor, de explodir.Eu já não galopo margeando o oceano, eu me afogo nele e levo o cavalo junto, mas não faço de maldade, ele se apegou a mim. Ele é apenas meu sentimento delirante. Declinante? Talvez. Mas com toda a certeza derivante, de deriva, à deriva.

Ela viaja de avião, e eu a sigo. Sigo suas migalhas de pão que ela vai deixando cair de seu sanduíche enquanto come, sanduíche daqueles enrolados em papel filme, dos que distribuem durante o vôo.

Ruins? Não pra mim. “O lixo de um homem é o tesouro de outro” não é assim?

Ela sobrevoa o campo, as árvores, o sol e assim ela acaba por ser meu sol e demais estrelas, mas apesar de sempre voltar à janela, seu céu, eu sei, eu, mas é tanta estrela, mas tão pouca constelação.

Quando eu morrer quero virar estrela, ou, no mínimo, vaga-lume, pra quando anoitecer eu ter certeza que o sol ainda vai se levantar, pra quando anoitecer eu ter uma luzinha, minha vida vai brilhar aqui, piscarei para você.

Na manhã, sempre aqui, pode ser tudo ou pode ser nada.

Na manhã, a galope, sol na nuca, indo para o oeste, para longe da máquina voadora que te leva, não sei mais o que pensar, só não quero me enganar.

Todos os meus textos tristes, por quê?

Onde colocá-los? No correio? Não vou gritar minha tristeza ao mundo... Rasgo de raiva ou te mando com amor? Endereço-te com carinho ou jogo pela privada em desespero?

Textos tristes, pra quê?

Pra mostrar que nem toda história tem um final feliz...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Kissuki e TV

“Será que existe amor a primeira vista?”

Foi seu primeiro pensamento na manhã seguinte, bem quando seu despertador tocou, um antigo relógio que, por milagre ou zelo de seu avô, ainda funcionava.

Fechou os olhos. Não para dormir, a noite toda já lhe provara que não conseguiria, mas para tentar lembrar o rosto dela.

Era o rosto mais belo que já vira na vida, isso ele não pestanejava em admitir, jamais conhecera muitas mulheres, mas mesmo assim era difícil retê-lo na imaginação, se dissolvia como névoa. Decidiu desistir. Tinha medo de que lembrasse aquela face de modo menos belo do que realmente era.

Refez a pergunta a si mesmo. “Não” foi a resposta que obteve enfim. Talvez um carinho instantâneo feito kissuki de limão, simplesmente por um cheiro de um sabor familiar e agradável. Mas então, porque aquela insônia?

Foram três dias assim. 72 horas e apenas 4 de sono, duas no engarrafamento e mais duas nas horas do almoço.

No terceiro dia ligou a televisão no canal noticiário e lá estava aquele rosto na telinha 14’ bem ali, dentro de sua cozinha, olhando para ele só de pijamas, no canto da tela, o aviso “Ao Vivo” ele reconheceu a paisagem como sendo ali perto do seu prédio.

Largou as panelas ao chão e correu para a porta...