terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Vai-se um velho
Carregado de nuvens. Vem
Novos sapatos em pés antigos

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Morremos a cada adeus
a cada despedida que deixa
toda a riqueza despida

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Reencontro

Engano-me um pouco a cada noite
Pensando que sou louco, pensando n'onde foste
Dançar com as estrelas, querendo eu contê-las
Arriscando a trincar
A linha do horizonte, destroçar

Lembro-me de tu quando me deito
Querendo o café ao acordar
Tua voz, despertador solar,
Mas tudo o que tenho é silêncio

[Que saudade de te ouvir chamar meu nome pela manhã
Do teu cheiro, da tua voz, da tua cuidadosa preocupação afã]

Porque quando se foi, num quarto treze de hospital
levaste contigo o que não pode ser reposto
O que não viria de novo nem em temporal

E as minhas rugas vão cavar
o dia do reencontro

E te encontro, num lugar celestial

sábado, 4 de junho de 2016

Cílios

A memória é um saco de pancadas
Às vezes, se afrouxando no teto
De certo que a levaremos a nocaute
Com todas as vidas com as quais nela batermos

A memória nos deixa assombrá-la
E nos assombra em cada esquina
As quinas da mesa se desgastam, jovens
De tanto que nelas topamos com os joelhos enfermos

O esquecimento é a benção dos velhos
Podem dormir tranquilos
Os termos assinados foram todos rasgados


No mundo esquisito abaixo dos cílios.

terça-feira, 24 de maio de 2016


O que fazer depois do amor?
O que ser depois do amor?

O que amar, depois do amor?


domingo, 1 de maio de 2016

Barro

Só tinha medo da mulher dos olhos de céu,
Do cabelo de barro, só tinha medo do escarcéu
Que ela era capaz de causar, com o simples desejo
Só tinha medo de receber seu desprezo

E no desassossego da solidão da estrada,
Parente tão próxima do tempo de vida rasgada,
Caminhava, irresoluto, com a desesperança no peito
E com a saudade como único leito

Ele deveria ter percebido, tão antes, que seu amor
Era a maior das armadilhas já armadas

Num canto desprezível de seu coração

segunda-feira, 18 de abril de 2016


É tanta intriga lá fora que só desejo olhar para dentro.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Sol, vida e fotografias

Esqueci de tirar instantâneos da vida
Porque ela passava tão rápida e tão intensa
Como queima hélio e hidrogênio, o Sol

quarta-feira, 2 de março de 2016

Sobre Quintanarinhos

Ontem, quando punha-me a ler Leminski, desassossegado, Quintana me pousou na janela, como o faziam aquelas andorinhas de seus amores. Quintana, logo Quintana! O mortivivo Quintana! Alegremente pus-me a questionar a que devia a honra daquela ilustre visita. O Quitanarinho revelou-me estar atrasado, parando apenas para satisfazer sua insistente e eterna preguiça. Migrava de volta para o Sul, para sua amada Alegrete. Havia passado temporada no Hemisfério Norte a visitar Rimbaud, Stendhal e Poe. "Poe?" indaguei. "Piu", respondeu, e pôs-se novamente a voar, cantarolando:
"Alegra-te, Alegrete,
pois um engano em bronze
será meu eterno penico!"

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O vazio do fim de um livro só pode ser preenchido com outro livro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Da folia

Queimem-se os já tão odiados pretextos
Quero apenas descansar o solene sono
Dos querubins aposentados
Apenas, justamente, o sono dos que não devem
O sono dos que não ralharam com o céu
Deixem que eu feche os olhos e desfrute
Do mundo que há por trás das pálpebras
Deixe a folia para lá
Deixe que o rei desfile seu triste fim
Porque, de carnaval em carnaval

O mundo vai se tornando menos real

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Do fim do mundo

Quão ridículo é um documentário
A discorrer sobre 21 de dezembro de 2012
sedo hoje já janeiro!

sábado, 30 de janeiro de 2016

Haikai da Estação Universo

Deixe-me morrer em teus braços
pois a vida é pouca como um universo
decaindo após explodir