Respirar

Tua respiração é meu calmante
Nas noites que insisto em não dormir
Aonde me vem a distração das estrelas
Contidas num luminar

Minha insônia recalcitrante
Diluída pelo teu ar de beijo porvir

Linhas

Linhas doentinhas
Carcomidas de trazer
Sentimentos encolhidos
Quase mudos do sofrer

Tão raquíticas linhazinhas
Escondidas num caderno
Para ninguém ver o que senti
E para sempre ser eterno

Essas linhas onde escrevo
E pouco à pouco me atrevo
A soltá-las à valer. Confesso...

Guardo quinquilharias
No guarda-roupas da alma
Quando eu for nu de corpo
e vestir só ela
reivindicarei toda a minha calma

Poeminha triste de fim de verão

Verão
Vereis
Verás

Verão que meu peito dói
mas só quando respiro
Querendo ou não
meu ar sairá sempre como um tiro

Verão as veias da dor
mas só quando sangro
já vai dar seis, vereis
acho que preciso de um doutor

Verão meu sangue flutuando
nos céus todo corroído
Tu sairás e verás
o breu do que se tornou meu eu

Verão variadas voltas vagueando vívidas
Vinda vida, veja vida, viva vida.

verão, vereis, verás...

Antes de ti

Os pesadelos reinavam

Escuras noites de incansáveis suspiros

Insaciáveis sombras sobre a cama

Pairavam indolentes

Reinavam insolentes

Sobrevoavam em formas medonhas

Assustadoras como uma lembrança

Os pesadelos reinavam

Antes de ti

Como relâmpagos notívagos

Estrondosos, em silêncio, espreitavam

Por todos os lados, e dentro do peito

Palpitavam pesarosos pesadelos

Parados nas sombras

Arrancavam-me a voz, o tom, o som

Antes de ti

Havia só pesadelos

Antes de ti

Amei-te com o mais raso de mim

Com o mais profundo também

Rasguei meus pulmões

Em gritos inaudíveis

Porque no espaço

Ninguém me ouvirá

É onde as lágrimas se evaporam

Pela falta de pressão

Ninguém me verá chorar

Quero enterrar em outro planeta

Onde não se poderão achar

Tudo que eu jamais quis perder de vista

O desejo de silenciar o desejo

Nada mais que tudo ardendo de lampejo

Supernovas em meu peito