sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Nem sei

Desapareço lá. Onde é lá? Lá é onde eu perco meu tempo, lá é onde eu nem sei de nada. Eu nunca quis sair de lá, eu nunca quis entrar de cabeça em nenhum outro lugar.

Garanti ao último sufoco que não deixaria encardir. Manteria sempre aquele tom de vermelho no peito, aquele gosto de romance antigo, e eu sempre cumpro promessas, por mais absurdas, por mais que as achem inúteis, eu as guardo lá onde eu faço desaparecer por fragmentação as preocupações, lá onde eu nem sei.

Garanti ao meu último sufoco que não me deixaria desistir, que não me abateria por tanto desespero, que continuaria a cantar e compor belos versos, disse que iria espalhá-los por tempos, ventos ou ouvidos (sussurrados a pés de ouvidos) e que não iria desaparecer com eles lá.

Onde é lá? Lá é onde ficam todas as cartas de amor não entregues, picotadas pelo próprio entregador. Lá é onde ficam todas as músicas bonitas que eu esqueci de cantar que eu fiz questão de anotar, numa folha ou no papel higiênico, montes de anotações. Acho que é disso que lá está cheio.

Não direi a que vim, porque deixei lá, lá está aquilo que eu não quis, aquilo que eu escolhi guardar, nunca confidenciar, esconder até de mim mesmo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Rédeas (ou ‘Uma dose de Coragem com açucar’)

Tomar Coragem... Eta bebida amarga! Coragem para parar, coragem para continuar, coragem para dar um passo em falso em meio ao turbilhão que é esse meu coração... Esse cara [o coração] sempre vem nas minhas conversas... Outro dia me peguei falando dele para o vigia aqui da rua...

Tomar minha vida... Tomar minha vida por minha! Ter coragem de reclamá-la a todos os meus amores passados que ficaram com um pedaço dela, feito fatia de bolo, bolo da moça, por favor... Eta vida boa!

Tomar uma dose extra de amor... Uma dose quase fatal, Sr. Doutor! Não, não me salve, não quero tomar remédios, eles só vão piorar meu estado...

Tomar o som... Domar o som... Esse som que sai de todos os locais nesses momentos... Pequenos momentos especiais, pequenas músicas bem letradas. Viva esses momentos, um viva a esses momentos, viva todos os primeiros beijos, viva a todos os primeiros beijos...

Tomar as rédeas... Domar a vida... Prefiro fazer isso... Ela não vai me levar aonde quiser, por caminhos que eu não quero, eu quero é escolher, eu quero saber tudo pelo coração, mesmo que ‘tudo’ sejam todos os amores passados, aqueles que tinham prazo de validade, feito algo perecível, que está vencido pelo tempo a meia-noite do dia impresso na embalagem...

Tomar as rédeas... A vida é minha, eu dou pra quem eu quiser e eu dou a ti, que adoçou minha dose de coragem.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Te darei um ponto.

Dar-te-ei um ponto.

Serás, a partir de hoje, ponto final em minha vida e não mais colocarás ponto final em minha vida, não mais pontuarás com a intenção de acabar comigo, não me olhe assim, fique fora do alcance da vista, nem sei por que faço isso, será que estou certo?

Dar-te-ei um outro ponto!

Será um ponto de exclamação, colherei a rosa mais bela que eu encontrar para fazer do caule o traço, e de um pingo de lágrima o ponto logo abaixo, e assim enfeitarei minha noite com a estrela que houver ou que convir, essa noite não tardará a chegar, e toda a ternura que quero estará lá.

Dar-te-ei um último ponto?

Sim, darei. E esse será tão certo quanto um ponto de interrogação, ele pergunta se eu quero ter a alegria de quando se vê um barco voltar, trazendo do mar o marinheiro ou o náufrago, a notícia de além-mar.

Nunca fui muito informado, só sobre mim mesmo, meus olhos são que só olham pra dentro.

Dar-te-ei, enfim, ponto.

O ponto de interrogação se desdobrará quando eu vir o barco vir sozinho, trazido pela correnteza, tristeza esquecida já não bate com essa visão, a estrela que eu encontrei para me guiar já apaziguou o desespero e encheu de luz a noite, a estrela fez-se sol.

Volto a ser sem ninguém de bom grado todas as noites, pois sei que a lua sempre vem socorrer os loucos, os solitários e os poetas, e todos os demais eus.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Astronauta da Saudade

(sim, esse nome é muito, muito, muito brega!!!)

Esse olhar das estrelas pela minha janela, sempre aberta, elas são a salvação da noite, o refúgio do meu próprio olhar.

Meu martírio é só ter que fechar os olhos cheios de amor, na ausência de luz, a cortina se fecha para dar início à nova cena e enquanto ela não abre de novo, eu fico eclipsado das belas estrelas que deslizam no palco.

Estrelas são aquelas coisas cheias de sentimento, rajadas de luz, apaguem as luzes da nave e me deixe vê-las!

É pena elas não estarem ao alcance do som...

O vácuo não me deixa tirar um som para elas...

Saudades do tempo que eu era criança, quando uma delas morava na esquina lá da rua...

Saudades da Terra que não insistiu em continuar ao alcance da vista...

Saudades de quem eu deixei para trás em anos de viagens intergalácticas...

Só restaram as estrelas, estas, insistem na solidão do espaço, insistem, esses pontos de sentimento...

Essas estrelas insistem em me lembrar, aí é quando eu descubro que elas são as lembranças!

Essas estrelas insistem em me salvar, aí eu vejo que elas são meu refugio para todas as horas, na imensidão toda hora tem estrela!