sábado, 27 de junho de 2009

Prefácio da minha memória...


Eu sento à mesa ao lado para ouvir conversas alheias.
Não qualquer conversa, não me esforço para ouvir besteiras, aguço os ouvidos para ouvir conversas distantes do outro lado do mundo, conversas de um mundo que não nasceu, mas que eu nutro dentro da minha fértil imaginação, fertilizantes não faltam, também pudera, você não para de me dar histórias pra contar...
Eu não troco minha própria pegada por nada.
Por mais que eu mude, sou sempre o mesmo. Aprendi isso ao me dedicar a comprar calçados com sola parecida, não poderei nunca ser um fugitivo de nada, me reconheceriam pelas marcas que eu deixo ao andar.
E eu também ando no branco, ando também em folha pautada, às vezes chego a andar no vidro do espelho embaçado e me reconhecem, as pegadas são sempre as mesmas.
Tem quem jogue conversa fora, eu as guardo com todo carinho.
Guardo todas as conversas que eu consigo em minha cabeça, mas há uma pequena nota no prefácio da minha memória que eu não consigo burlar, simplesmente não consigo fazer com que minha memória apague o que passou... Tanta conversa que passa e fica... Tantos detalhes das casas por onde passei a noite, casas que eu memorizo por medo de ficar sem, mesmo sabendo que vou acabar indo embora como de quartos de hotéis...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O velho tempo


O tempo é uma canção que não precisa de vozes para ser cantada. Ele é o esquisito da esquina, que passa e repassa solitário feito quem não quer nada com a vida, feito quem não quer nada com ninguém, feito quem não precisa de ninguém para ser feliz. O solitário da esquina é louco pelo tempo, ele é solitário pelo tempo, solitário como o tempo.
E ao afirmar tudo que sei sobre o tempo eu também afirmo que ele é louco. Quem passaria a eternidade solitário? O tempo. E em sua loucura ele faz com que a eternidade passe, e a eternidade o acompanha, seria ele não tão solitário como imagino?
O tempo é a vida de um imortal, um bom encontro casual mostra o quanto ele pode facilmente nos enganar, fazendo-nos pensar que ele passa rápido quando na verdade ele nem mudou, como o rosto que não se deixa arranhar pela velhice.
O tempo diz, mesmo sem uma voz para dizer, mesmo que ninguém consiga o acompanhar de tão próximo para que ele sussurre ao ouvido, ele diz quem vai juntar dedos e cordas ou dedos e cabelos e então me gritou para que os acordes fossem companheiros de meus dedos.
Fielmente creio que, assim como o homem não criou Deus, ele também não criou o tempo, o tempo não foi inventado, ele foi gritado, e esse grito ecoou por toda a parte eternamente, agora me perguntem se houve um dia garganta para gritá-lo...
O velho ranzinza fura bolas que caem em seu quintal para não deixar que a borracha da pelota lhe ultrapasse em anos os anos ainda em forma.
O velhinho sorridente e rechonchudo dispensa elogios, sabe que está ficando careca, passa a mão na lisa cabeça e sente o tempo dizer-lhe para não se preocupar, ela ainda tem os dela, seus dedos ainda tem os cabelos dela para passar, e os acordes para soar.
Fez-se a música do tempo. E o homem imerso no meio dele cogitou-se em que tom ele cantava para perceber que aquele som não pararia nem sequer um dia.

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Foto por Chacon, UFRN, dou um doce pra quem descobrir em que parte exatamente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Je voudrais

Je voudrais la vie
Avec un peu de choq
Je voudrais que tu
Fermes tes yeux
Si tu as le courage
Je voudrais la vie
Avec un toque de toi
Unlace tes cheveux
Mais non
Se tu ne viens pas
À peine reste
Fidèle et loyale sentinelle
Bien dans mon ciel...

Ps.: parabéns pra mim =}

domingo, 14 de junho de 2009

As letras que (ex)ponho


Vou escrever para não esquecer o que eu disse em meio a pedidos de desculpa, em meio a adeuses mal planejados.
Eu disse que tenho inveja de ti, disse que se fosse eu, na verdade, quando fui eu, eu fiz o contrário do que você fez e acabei andando na contramão do que sentia.
Não choro, meu coração é que fica a prantear e não posso contê-lo, faça o que eu fizer. Ele é incombatível nesse sentido.
A pena entristece ao toque de meus dedos magros, ela borra o papel, trêmula, não consegue parar, ela quer parar, cansada, o sono aguarda, mas a pena eufórica insiste.
Eu desejo me expor, desejo, mas não sei por que, então, apenas converso com o papel, amigo de anos, Deus, estiveste aqui por tantos anos, já!
Mais uma vez o show fracassa, por que mesmo que o tic-tac bate? Acho que é porque o show não pode parar. C’est la vie.
A verdade é que meus olhos cor de árvore na primavera criam raízes rápido, raízes rápidas, talvez rápidas de mais, vão fundo em pele, carne e alma, e coração, mas até hoje sempre houve quem as arrancasse, outonos vêm fortes, eles sempre vêm, depois o frio.
Será que palavras são poucas para mostrar tudo? Não tenho medo que elas me exponham por isto: elas nunca conseguirão mostrar tudo da minha criatura lírica que habita na vegetação rasteira de minh’alma, palavras nunca vão me expor, sou eu quem as exponho com tudo que há em mim.


Foto por: Chacon

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Noite chuvosa, Reginaldo na vitrola


Noite chuvosa, Reginaldo na vitrola, suco de uva, a janela cantando, a lua se escondendo... Ele me pede pra olhar, ver a tristeza que a tua ausência causa, ver o adeus em um abanar de mãos, em um abraço de despedida que não termina em um beijo teu.
E eu que comecei e nem sabia o fim, acho que nunca se sabe o fim até que você vê que não há freio, curvas e mais curvas na estrada tortuosa e não consigo frear, acho que vou acabar me estabacando na próxima esquina que não tiver sinal fechado, fechado por sorte, como os últimos que passei.
A música muda, agora ele continua falando com seu imenso público, homem amado é ele, e ele fala que sem isso, sem amor, ele nada seria, Deus, como ele tem razão quando diz que sem amor nada seria, não valeriam as coisas que ele tem, não valeria a beleza nem nada. Nem a saborosa bala Embaré que eu te dei, mas esperem! Havia uma carta no outro bolso, havia uma bala de caramelo em um bolso, e uma carta com uma poesia e uma bela prosa no outro, mas foi a bala que eu dei, não fazia sentido dar a carta envelhecida em café, com um poema cíclico (daqueles que você pode continuar lendo, indo do fim ao início quantas vezes quiser).
Agora a velha e bela voz do cantor canta seu mais importante sucesso “Garçom” ele fala de traição, fala da mulher que amou, eu me pergunto se amei, sim, alguma vez na vida eu amei, e eu tenho amor, eu tenho todo o amor que eu necessito, tenho a graça, e o amor da mulher amada é de outro, nessa hora, todos cantam em coro que ela vai se casar, que mandou uma carta para avisar, essa música eu pedi assim que entreguei a bala, pedi ao cantor da praça de alimentação, arranquei um pedaço da carta, não importava mais, ela vai entrar para a seção “Cartas nunca entregues”, meu Deus, ela mandou uma carta para avisar do casamento dela! A minha carta não era pra dizer adeus, era um “oi” muito poético. No final o garçom prevê “Rossi, esse vai ser um grande sucesso...”
Isso me lembra outra música, mas essa eu deixarei para depois, mas só para os mais curiosos vou revelar a canção “O grande amor da minha vida” ou seria “convite de casamento” que ouvi a primeira vez na voz de Gian e Giovanni, é aquela que diz “Num cantinho rabiscado no verso/ ela disse “meu amor eu confesso/ estou casando, mas o grande amor da minha vida é você”.
Eu beberia vinho, me afogaria em vinho se fosse possível a mim, mas certamente eu morreria antes disso, meu fígado não suportaria, ele já sofre há anos, doente, meu sangue o mata a cada segundo um pouco mais, morrerei disso em alguns anos, ou do estômago, deve ser algo assim...
Depois de uma seqüência de músicas animadas, ele canta que por amor se faz tudo, sim, por amor tudo se faz, e em seguida, para escangalhar com meu francês ele diz para a musa inspiradora que mon amour, meu bem, ma femme, de corpo meigo e pequeno, portadora de um veneno que ataca a alma e o coração, me inunda de dopamina, talvez mate assim mesmo, overdose.
E para acabar, não para acabar com o cd, nem com as músicas, mas para acabar comigo, ele me pede para cantar, realmente parece que se dirige a mim, ele me pede para ter coragem e dizer para eu odiar, para eu esquecer, e eu sei que eu vou esquecer, mas no final eu volto, eu volto a...
O Paulo Sérgio! Deus, que Deus o tenha, como eu acabei por cometer o mesmo erro dele, eu devia confiar mais em mim. Roberto, Erasmo, Spektor, Rossini, Sérgio Reis, grande Sérgio Reis e seu coração de papel que foi ao leu, até o Rossi mesmo, todos eles, como diria o garçom, me entendem, por que eu não sou o único, eles estão comigo, nobres companhias...

Ps.: Na foto detalhe do meu msn com destaque para o grupo "=} Ela" e em baixo "arraste um contato para esse gurpo" que violento, não?