domingo, 26 de setembro de 2010


Todas as flores que eu não dei
Descansam sob o sol que tortura os fundos da casa
Se entortam, no seu não desabrochar
No não amanhecer, eternamente sob a lua

Todas as flores que eu não dei
Escondem-se nos quintais que você nunca verá
A maior parte delas, de papel,
Se desmanchará na próxima chuva

Todas as flores que eu não dei
Entristeceram e amassaram de estáticas
Essas flores que não dormiram sob teus olhos

domingo, 12 de setembro de 2010

Lábio que não esconde boca
Boca que descobre dente
Dente que se morde fere
Ferida que me marca vida
Vida que te quero toda
Toda vida que se escreve torta
Torta escrita em minha pele morna
Morna de morta por aberto olho
Olho que te escorre lágrima
Lágrima negra que te mancha o rosto
Rosto que esconde gosto
Gosto de rosa aberta

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Entrada

Quando você entrou atrasada na minha vida e começou a gritar sem razão foi o momento exato em que eu comecei a fingir que não era comigo, quando você entrou na minha vida foi o momento exato do desapego moral, o momento no qual me dediquei a não aceitar troca ou devolução, era pra já, um amor fulminante, fulminante como um ataque cardíaco que nos leva escada a baixo, um amor fulminante como o amor e eu fingia que ninguém havia entrado, achava que a chave da porta seria um secreto achado, acreditava fielmente que todas as janelas estavam fechadas e que aquela leve brisa de primavera era a calefação que saia pelos poros da casa. Quando você chegou atrasada na minha vida e roubou a minha vida de mim foi o momento exato que eu comecei a acreditar, foi o momento da perfeição, o momento de limpar as calhas sujas de folhas secas e as espalhadas pelo jardim de tantos outonos, de juntar as folhas, de jogá-las fora, de não mais precisar me vestir com elas. Enquanto você entrava, eu a recebia na varanda, na cadeira de balanço que era onde eu me recolhia para amar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Poesia Andarilha

Caí do mundo contemplando
O céu que havia lá no fundo dos teus olhos
E aqui na casa desarrumada
Das janelas lanço luz pelos jardins do mundo

Desejo plenamente simples
Um final que eu não precise sonhar contando
Que eu possa me encontrar
Nos varais do seu quintal que sou eu

Anseio desesperadamente calmo
Tua presença todos os dias e a cada palmo
De chão esquentado andado
Dos bilhões e bilhões de passos passados