domingo, 24 de janeiro de 2010

Soninho

Perco o sono varias noites por sono
Ganho mais um sol em cada noite nascer
Terço meus travesseiros como rodas de estrada
Meus cabelos sem teus dedos são quase nada

Esqueço tesouros escondidos em barro
E mais uma vez, aí, como me sinto só
Ouvindo o inegável barulho dos silêncios crônicos
Como vozes de lençóis rodeados de sons anacrônicos

O próprio teto se ilumina como aquelas abóbodas estreladas
Mas vai embora, como se, pelo vento, fosse levemente esporeado

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Doença

Umas poucas vidas me disseram que a vida que eu levava me trazia aquela doença que consumia tudo que eu era para ser doença, aquela doença me tomava para me transformar nela mesma, era uma dança pouco sincronizada entre mim e ela, era como me ter sem me ter, era como me ser sem me ser, era como apodrecer por dentro, ou um par de sapatos do meu tio.

Uma muita vida me disse que ainda havia esperanças no que eu achava ser apenas um monte de palavras cruzadas, chaveadas por milênios de desinformações, mas as desinformações só se encontravam naquele meu sentimento de rebeldia deslocada, assim como eu e só vi que aquela mesma doença também me cegava quando finalmente enxerguei.

E minhas mãos tocavam lápis, cordas, papel e madeira sem saber o quanto aquilo estava oco, tão vazio por dentro estavam àquelas poesias, a doença também as consumia, remoia cada nota, cada verso, como se deles se alimentasse e os plantasse para seu próprio consumo.

E para ser curado da doença, não bastou toque de gaita, não bastaram palavras vazias, era necessário um toque de uma mão que fez muito mais do que eu, era necessária uma palavra cheia de uma esperança, cheias de uma perfeição que eu não encontraria sem que antes, morresse.

O verdadeiro e perfeito amor embevece-se pela morte...

Foi necessária uma morte para se desfazer doença, e a cura perdura pela vida.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sol, Lua

As sardas calculadas do teu rosto
Lembram, mesmo não tendo o mesmo gosto,
As ruínas de algum império antigo
Que reinou sobre a lua, centauri
Ou algum lugar mais longínquo

Belezas puras; fieis mistérios
Como mil monastérios

Intocáveis distâncias, alvos de ânsias
Cobrem algumas intempéries

Da personalidade forte
Os traços dos olhos
Metrificados, desenhados no corte
Do pincel criador, flor e sorte

Herdou dos genitores
O brilho solar,
As sardas da superfície lunar
E uma constelação de amores