quinta-feira, 24 de maio de 2007

Prisão martírica antiinspiratória e coisas metalingüísticas

Escrevo estas palavras dentro do ônibus enquanto volto de mais uma aula do período da manhã, volto para casa depois de mais uma aula que, por sinal, dessa vez foi bastante proveitosa, pois não dormi nela, apesar de não ter prendido minha atenção no que o lente falava por nem um segundo.
O que eu penso agora é o incrível fato de tudo, absolutamente tudo, me inspirar tanto, apesar de, ultimamente nada vir a me inspirar.
Seco mar de idéias solventes de paz e amor, de felicidade e alegria, quatro barcos que agora encalham nas pedras dos arrecifes bem longe da praia e eu, dissolvido apenas por areia, misturado ao sal, tempero que agora só dói por trazer lembranças das minhas saudades, vejo-os. Martírio, prisão antiinspiratória que me desperdiça.
Há duas pessoas nesse momento atrás de mim, conversam em altas vozes. Elas sorriem uma para a outra nenhuma palavra me vem à mente (o mar continua estático). Um casal se entreolha dizem palavras que chegam soltas a mim, (uma onda?), mas continuo a escrever essas coisas ironicamente sem sal (tristemente apenas marolas) isso deveria me inspirar, geralmente me inspiram (como sempre vêm para causar tsunamis), mas nem mesmo um lampejo, nem mesmo a cor, agora verde das recentes chuvas, de tudo me faz vir algo a mente.

Minha parada se aproxima.

Gravo estas palavras em meu gravador de bolso para não esquecê-las mais tarde. Visão mais bela tive, só ela descendo de outro ônibus qualquer, graciosamente tropeçando nos degraus, divinamente de cabelos desleixados ao vento, coloridamente vestida de preto e branco, elegantemente vestida do modo mais simples (calmamente um maremoto).
Venci timidez, falta de inspiração e vendedores de tikets para chegar a ti, perguntar teu nome, puxar conversa.
Paradoxos, segundos para me apaixonar, meses para te beijar, anos para te dessolteirar.
Agora as ondas batem, como se nunca tivessem parado de bater, marolas são apenas anunciações de ondas mais fortes, o sal da areia dissolve-se e quatro barcos erguem-se, dançando no movimento do mar, no porto, perto de mim, atracados na praia.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Cronologia do tempo entre eu e você

É sonho, eu sei que é sonho, reconheço as linhas turvas que chegam a meus olhos fechados. Nele tento me mover, mas não consigo, pareço preso ou parece que meu corpo não obedece mais a mim, será que não é o meu corpo? Não sei. Aquele ali na frente parece tanto comigo...

É... Sou eu. E olhem... Lá vem ela a desfilar diante de minha vista. Será que demonstrei assim meu interesse nela? Pareço tão distraído do mundo, apenas ela tem minha atenção, minha deficiente, cega e tetraplegica atenção parece levantar e caminhar na direção dela e nela parar para não querer sair.

Também pudera... Ela é uma daquelas mulheres... É... Uma daquelas mulheres que Deus fez com as próprias mãos para mostrar ao mais cético dos céticos que existe, sim, um Céu a se alcançar.

Ela se aproxima de mim e encosta seus lábios nos meus, cela minha boca para que eu pare de dizer besteiras e cesse com minhas piadas desgraçadas e infames. E eu sinto esse cheirinho bom de café da manhã em sua boca e de travesseiro em seu rosto, vejo as marcas do seu lençol nas costas dela e sorrio, besta.

Então eu, como observador de mim mesmo a namorar aquela que amo, penso: como eu queria que não fosse sonho, como eu queria que fosse uma lembrança boa de algo já ocorrido que eu acordasse e lembrasse que foi ontem que todo esse acontecido aconteceu... No mínimo que esse sonho fosse uma recordação...

É ai que, entre o continuar a dormir e te ter em meus braços e o acordar para a incerteza de uma realidade que eu nem sei o quanto é real, penso mais uma vez: Em meus sonhos ou fora deles, caso ela não esteja lá fora, esperarei, esperançoso...

Então desperto, empurro o travesseiro, tento me espreguiçar, algo impede, tento empurrar algo ao meu lado e esse algo resmunga palavras que eu não entendo, “será que é o cachorro que subiu de novo na cama? Não, não é felpudo, mas sim, tem uma pele macia...” Abro meus olhos ludibriados ainda com as novas formas que as coisas tomam e olho, você, do meu lado, ainda dorminhoca, aquela que habitava meu sonho, tomou vida e deita-se agora ao meu lado.

Não foi o passado que eu vi, foi o futuro...

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Etc


Haverá lugar bom?
Haverá um lugar para ser feliz, com alguém?
Haverá paraíso que não seja o dos loucos ou dos mortos?
O que se é capaz de fazer por amor?

Eu me sentava todos os dias de segunda a sexta no mesmo banquinho e me deparava com a nuca dela, ou será que eu me deparava todos os dias com a nuca dela e resolvia sentar no mesmo banquinho? A minha direita e a minha esquerda, árvores, aceitando o céu e a mesma, de folhas cinzas, retas, fazia sombra e ventilava a mim e a ela. Banquinho desconfortável que eu aprendi a amar, manhã quente que eu aprendi a apreciar, lugar bom que eu encontrei quando, um dia, meio sonolento me descobri amando tua nuca nua.

Todos os lugares que nós vamos juntos ela me abraça, me empresta as penas das asas dela para que eu voe até o céu de estrelas que ela mesma pontilhou, me dá mordidas carinhosas e deixa marcado com o perfeito do torto de seus dentes na minha pele. Qualquer lugar que eu a leve, ela me beija, como se agradecesse por eu estar lá, com ela, feliz, por estar em qualquer lugar, comigo.

No inicio achei loucura. Daria certo? Nós nos parecíamos, eu a via estudando no seu banquinho, miúda, a achava tão inteligente, apesar de distraída de meu terno desejo, e me apaixonava cada dia mais pelo seu jeito de falar sozinha, pelo seu jeito de não me dar à atenção até que a sacolejei, mostrei-me vivo, e ela entendeu, hoje o sorriso dela é meu paraíso e meus braços são seu esconderijo para o frio, para os dias mil que passaremos ainda juntos.

O que eu seria capaz de fazer por ela? Você já pensou o que você faria por amor? Acho que muitos diriam “não sei” ou “depende” os mais trovadores repetiriam mil vezes “eu não sou o que se vê, nem ao menos o que se explica, tenho amor e isso já devia bastar. Faria qualquer coisa que fosse impossível, pois somente nas coisas impossíveis se inexplica o amor”. E eu? Por ela, por amor, eu faria tudo, exatamente tudo, entre o qualquer coisa e o etc...
Dedicatória: "Samyr" Mymy "Biscoito"