quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Como se chama isso?

Já imaginou se fosse tudo tão simples como se diz?

Que imoral sou eu, nesses versos metrificados, brandos, irracionais, vândalos, suplicando-lhe a atenção que eu nunca poderia suplicar. O que tem debaixo do travesseiro? Mãos que apertam uma folha de papel amassada. Nunca entregue? Ou um monte de esperanças pisoteadas na confusão que foi o dia? O que tem acima? Só aquele que despedaça o tempo que gastou. Só aquele que não sabe qualquer ponto de fuga. Só aquele que queria ter seu próprio manual de instruções, perdido por paraguaios no ato da construção. Aquele em (um) curto(-)circuito, que leva sempre, torto, ao mesmo ponto. Seu pensamento duvida, sua vida, a deriva no espaço sideral.

E os passageiros já são dados como perdidos, já se dão como perdidos. Um monte de coisas desgastadas pelo uso e pela falta de manutenção, só óleo seco, talvez alguns rabiscos de criança, que, já e ainda amarelos, se mantêm a gritar tentado trespassar o barulho da solidão dos dois últimos passageiros que se esfaqueiam, não em assassínio, mas tentando cortar os próprios pulsos, só a querer morrer primeiro, sem querer ser abatido pelo desamparo total ou distorcido pela loucura que será seu dia final sozinho.

Esse mundo não é meu, esse mundo nem é seu. Perderam um ao outro em pensamento e emoção, se agüentam, arrumam desculpas para continuarem vivos, olham pelas portas e janelas e vêem a terra se tornar cada vez maior, um olho azul com o fundo invertido, o olho não tem um minuto de paz, olhado, despido, feito eu fiz com o meu próprio sentimento, "eu" já é tirano, vil, imoral.

Já imaginou se fosse tudo tão simples assim? Ele imaginou o amor, mas não era realmente o amor, era só fingimento de alegria, era só a chuva garoante, o animal rastejante, venenoso atraído pela flauta do domador, talvez um teatro improvisado pela sua mania de ator que deixou a casa vazia, a cama fria, e condenou seu fantasma a rondar o cobertor.

Para não sofrer, para não chorar, foi egoísta, mas o auge de seu egoísmo era ajudar.

Ela sempre foi aquela que ele sempre sonhou.

Ele percebeu que sempre se enganou.

Ela foi ao seu lado para abrandar a dor.

Ele olhou e viu a origem do desespero.

Ela está no sonho belo dele.

Ele esta acordado.

Ela foi ao seu lado quando chamada.

Ele chamou e foi atendido.

Ele chamou e foi atendido, mas não por ela, e sim por aquela em seus sonhos, a que compartilhava de seu mesmo egoísmo, multiplicava-lhe os dons, não lhe riscava os defeitos, mas dividiam laranjas, amarrava fitas nos dedos, sem metas, lançava sorrisos e ele agarrava. Enfim, para a felicidade não existem palavras só garranchos, rascunhos, rascunhos que não chegam a integrar o lixo, mas passam da consistência do papel, rasgam a barreira entre ele e o céu. Isso se chama felicidade.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Poucas palavras não fazem a beleza do silêncio

Como será que cabem tantas palavras em um gesto?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Textos Tristes

Eu já não faço por diversão, faço por necessidade de expor, de explodir.Eu já não galopo margeando o oceano, eu me afogo nele e levo o cavalo junto, mas não faço de maldade, ele se apegou a mim. Ele é apenas meu sentimento delirante. Declinante? Talvez. Mas com toda a certeza derivante, de deriva, à deriva.

Ela viaja de avião, e eu a sigo. Sigo suas migalhas de pão que ela vai deixando cair de seu sanduíche enquanto come, sanduíche daqueles enrolados em papel filme, dos que distribuem durante o vôo.

Ruins? Não pra mim. “O lixo de um homem é o tesouro de outro” não é assim?

Ela sobrevoa o campo, as árvores, o sol e assim ela acaba por ser meu sol e demais estrelas, mas apesar de sempre voltar à janela, seu céu, eu sei, eu, mas é tanta estrela, mas tão pouca constelação.

Quando eu morrer quero virar estrela, ou, no mínimo, vaga-lume, pra quando anoitecer eu ter certeza que o sol ainda vai se levantar, pra quando anoitecer eu ter uma luzinha, minha vida vai brilhar aqui, piscarei para você.

Na manhã, sempre aqui, pode ser tudo ou pode ser nada.

Na manhã, a galope, sol na nuca, indo para o oeste, para longe da máquina voadora que te leva, não sei mais o que pensar, só não quero me enganar.

Todos os meus textos tristes, por quê?

Onde colocá-los? No correio? Não vou gritar minha tristeza ao mundo... Rasgo de raiva ou te mando com amor? Endereço-te com carinho ou jogo pela privada em desespero?

Textos tristes, pra quê?

Pra mostrar que nem toda história tem um final feliz...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Kissuki e TV

“Será que existe amor a primeira vista?”

Foi seu primeiro pensamento na manhã seguinte, bem quando seu despertador tocou, um antigo relógio que, por milagre ou zelo de seu avô, ainda funcionava.

Fechou os olhos. Não para dormir, a noite toda já lhe provara que não conseguiria, mas para tentar lembrar o rosto dela.

Era o rosto mais belo que já vira na vida, isso ele não pestanejava em admitir, jamais conhecera muitas mulheres, mas mesmo assim era difícil retê-lo na imaginação, se dissolvia como névoa. Decidiu desistir. Tinha medo de que lembrasse aquela face de modo menos belo do que realmente era.

Refez a pergunta a si mesmo. “Não” foi a resposta que obteve enfim. Talvez um carinho instantâneo feito kissuki de limão, simplesmente por um cheiro de um sabor familiar e agradável. Mas então, porque aquela insônia?

Foram três dias assim. 72 horas e apenas 4 de sono, duas no engarrafamento e mais duas nas horas do almoço.

No terceiro dia ligou a televisão no canal noticiário e lá estava aquele rosto na telinha 14’ bem ali, dentro de sua cozinha, olhando para ele só de pijamas, no canto da tela, o aviso “Ao Vivo” ele reconheceu a paisagem como sendo ali perto do seu prédio.

Largou as panelas ao chão e correu para a porta...