quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TIC TAC

Às vezes é necessário que deixemos os fatos acontecerem de modo natural, deixar que os fatos sejam fatos naturalmente.

Será que um dia aprenderei como perdoar tudo? Eu sei que há motivos para perdoar, mas ainda há farpas, coisas tolas, mas que machucam, e a dor está na dor das pequenas coisas.

Todas as vezes que penso no passado parece que não foi muito longe, aquele perfume, e aquele azedume, tudo.

Dar um tempo. A vida vai mudar, vai ficar melhor depois, foi o que prometeu, e a despedida pareceu o primeiro beijo, vai ser melhor, vai consertar o que ficou.

Hoje eu sei, vivo de novo por que a vida insiste em viver, a vida quer mais vida, a vida pede por mais vida e ela grita aos quatro ventos sua vontade.

Aquela vida se foi, para entrar uma nova em seu lugar.

O tempo é um amigo indispensável para todas as horas.

Dar tempo ao tempo para que o tempo possa mostrar-se necessário como um médico tardio, que examina o paciente em estado terminal.

Dar tempo ao tempo para que ele possa nos dar rasteiras.

Dar tempo ao tempo para que ele possa caminhar por avenidas de cetim.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Chave de Rodas

Embola, gira, roda chave de rodas,

Amola essa cegueira do amor

Girando os parafusos,

Todos tão difusos

Daquilo que esperavam de mim:

Retos riscos, ricos sem pavor

Riscos em ritos sem riscos

Sempre na direção que meu vento

Esteja soprando a favor.


Embora, gira, roda chave de rodas,

Afina essa gagueira da garganta,

A voz ainda sai como cristal rachado

Pedaços incompreensíveis, mal arrumados

Todos quebrados, mas os detenho,

Presos pelo ar como desenho,

Sonoro desenho de criança.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Fim, suplício, começo, recomeço, recomeçando a amanhecer.

Morro de amor, mordo minha pele de metal reluzente, tiro tiras de atadura para fazer um cordão que cabe em volta do pescoço, mas que cabe, também, um coração.

A dose de veneno, dos bons venenos, é tão amarga, desce tão devagar, abre o peito tão lento, ele já bate lento, cansado dessa vida de fim de festa, de ser expulso pelo garçom às quatro da madrugada às vassouradas, junto com o lixo.

Que martírio é ter que suplicar, é ter que ouvir minhas próprias súplicas, pedindo para que ele obedeça a ordem de despejo. Vá e pense muito bem a respeito do que você fez!

Assobiar pelas ruas, só. Aquele cara sério continua a caminhar e assobiar em si bemol, para bem em frente daquele prédio que tem uma porta que dá para o rio, o sol reflete seus últimos suspiros do dia na água poluída, ele volta, pega o ônibus lotado. Tanta gente, e o mundo agora já não faz mais par.

Voltando a servir-se de vida, voltando a ser sério, de volta ao ser sério, é difícil não ter planos Bs, mas continuar é preciso, desmanchar a renda para tecer uma nova é necessário, marchar para o fim certo, pois os motivos que nos trouxeram até aqui já são incertos. Tricotar uma nova camisa para a era de frio, ou esperar que o sol traga o desgelo.

Esperar que o sol reamanheça, que ele reapareça para a época da luta, e os gestos não serão apenas de agonia, viver assim é melhor.

No fim de tudo, tudo está claro, no fim de tudo, tudo bem, o antídoto venceu o veneno, uma solução que hospeda a razão de viver, uma razão que dá conta da vida nova, que voa pela janela procurando não-sei-o-que, em duas vidas quero viver, com todas essas personagens pretendo achar a melhor, uma que seja eu.

No fim de tudo, voltando a viajar, voltando a me alinhar, sem incertezas, com o oposto da dor, disposto a alinhar os olhos, os sorrisos e os pés, a falta de amor é uma personagem sem fala, inexpressivo, ele simplesmente foi mandado embora, ficou o bom coração que faz dupla com o que acaba de voltar do canto da sala.

No final deixarei tudo claro, no fim, fica tudo bem claro.