segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Da Série: Releituras Bregas


José, as coisas nem sempre são como a gente quer
José, meu amigo, você sempre quer aquela mulher
Mas c' não sabe não, que o mundo não parou
Mas c' não sabe não, que c' quer mais que uma amiga
mas que no fim isso sempre causa uma briga
Entre você e eu, entre ela e ele
Entre as borboletas e as confissões
e é fim de festa, por favor, apague a luz
Vamos para casa do Luiz, chorar nossas mágoas em paz

José, as coisas nunca são como a gente quer
José, meu amigo, você sempre quer aquela mulher
Mas c' sabe sim, que a orquestra já parou
Mas c' sabe sim, que nós fomos fundo de mais
e chega o fim! Você sabe, amigo, só quero paz
Pra poder entender, pra você acordar
e pra afogar, numa mesa de bar
E é fim de festa, por favor apague a luz
Nós somos os poetas de fim de festa!

Ah, nós somos os poetas
De fim de festa!

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Arte: Diego Fernandes. Acessível aqui.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011


Ergo a minha voz
Pra dizer que não há outro
Como Tu
Comigo até o fim

Abro minhas mãos
E Te entrego remos, lemes e velas
Pois só Tu sabes
O vento que sopra nelas

Rasgo o coração
E escrevo nele Teu Santo Nome
Que é Vida
Onde a minha está escondida

Em meus rosto eu quero ter
Um espelho pra Ti refletir

Nas Tuas mãos eu quero ser
Moldado semelhante a Ti

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não vou dançar sua voz...

Não vou dançar sua voz
flagelar meu corpo com seu tom
Nem fingir que ainda espero o correio
Pois já sou meio aquilo
Que você desejou que eu fosse:
Um eterno prisioneiro
Desse campo de inexistência
Da não memória
Da não carência
Não corpo no corpo
Só ausência

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Interferência

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Uma bela noite de início de inverno se pronunciava no hemisfério norte. Era uma das poucas chances em quase 100 anos que os torcedores de um dos times de baseball mais loseres da atualidade tinha de chegar as grandes finais, a World Series. A partida era a número 6 de uma melhor de 7, e em casa, era ganhar, e avançar para as finais, simples assim.

A Primeira Entrada (de 9) terminou 2 a zero para o time dos azarões, era perfeito, o estádio quase foi a baixo com mais uma das rebatidas espetaculares da estrela do time, tudo era festa, a Segunda Entrada terminou com os azarões marcando mais um ponto, era 3-0, e 100 anos de espera iriam acabar ali. Um momento histórico. Mas as coisas mudaram em fração de segundos.

Terceira Entrada o rebatedor do time que até então estava perdendo a partida e não havia feito nenhum ponto rebateu uma bola feia, mas certeira, nas arquibancadas, naqueles preciosos segundos no qual a bola estava no ar, todos se perguntavam se o apanhador do time azarão iria pegar a bola (eliminando assim o outro time) ou se a bola iria para as arquibancadas, fazendo com que os adversários marcassem seus primeiros pontos. E então... Então o mundo desabou...

Um torcedor desavisado na beirada das arquibancadas se esticou e colocou a mão dentro do campo, por cima da luva de Moises Alou (apanhador do time azarão) e simplesmente pegou a bola... “Interferência!!!” Gritou irado Moises, mas era tarde, o torcedor com a bola na mão comemorava, o outro time marcava seus primeiros pontos na partida, e toda a dinâmica dos torcedores presentes ali aquela noite mudou.

O pobre torcedor desavisado demorou alguns minutos para perceber que havia feito algo de muito errado. Tempo suficiente para todas as emissoras de TV começarem a filmá-lo, descobrirem seu nome, e para que todos os torcedores do estádio começassem a jogar bebidas nele, cuspir nele, xingá-lo de todos os palavrões possíveis e imagináveis. Os Azarões perderam aquele jogo depois disso (e também o jogo 7, perdendo a chance de ir para as finais) e o pobre torcedor, tão azarado quanto seu time, teve que ser escoltado pelos seguranças para fora de uma cidade inteira que jogava todos os seus pecados em cima dele, xingamentos, cusparadas, os próprios jogadores do time azarão deram coletivas de imprensa culpando aquele pobre fã, sobre ele tentou-se colocar a culpa e os pecados de todos, em cima de um pobre e azarão bode expiatório.

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Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto.” (Lev. 16.22)


Há tempos as pessoas faziam como fizeram com o Torcedor-Azarão-Bode-Expiatório que cometeu aquela interferência no jogo, mas com um bode de verdade, lançavam sobre ele todos seus xingamentos, lamúrias e pecados e o mandavam para fora da cidade, como se, com ele, fossem lavadas suas almas.

Mas há uma boa notícia, e a boa notícia é que não precisamos mais de bodes, não precisamos nem mais de Torcedores Azarões para por a culpa (que é na verdade nossa, do time) por não irmos a World Series, porque temos um cordeiro que tomou sobre si todas as nossas iniquidades e por elas sofreu xingamentos, cusparadas, açoites... E por elas seu sangue foi derramado e sua carne lacerada... E por elas (e muito mais por amor) morreu... Mas esse cordeiro, mas esse leão, rompeu todas as barreiras do que para nós é impossível e venceu... A morte, o pecado, o mundo... E por isso nós também vencemos, somos vencedores de mais que uma World Series...

Nós somos mais que vencedores... Da morte, do pecado, do mundo... Mais que isso…

"Ele próprio levou os nossos pecados em Seu corpo no madeiro, a fim de que pudéssemos morrer aos pecados e viver em retidão. Através das Suas feridas vocês foram curados." (I.Pe.2:24)


“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.” (1 Pedro1:18-21)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Nenhuma brisa

vento

Houve um dia no qual o vento soprou no campo de uma forma esplendorosamente diferente. Ninguém sabia realmente o que estava diferente, mas todos, absolutamente todos, sabiam que havia algo de diferente naquela brisa.

Ela não parecia vir do mar, mas também não parecia vir da terra, era um vento bravo, mas que acariciava cada pétala do mais delicado lírio no campo. Aquele vento soprava daquele jeito diferente e então se encontrava com as montanhas e subia aos mais altos cumes.

Aquele vento deixou intrigado o mais sábio dos sábios, de fato, aquele acontecimento único deixou até os próprios anjos curiosos, apesar deles já saberem o que se passava.

O curioso, também, era que aquele vento, além de chegar aos cumes frios e salpicados de neve das montanhas, também subia ao universo, lá onde as estrelas brilham, e onde, naquela noite, uma estrela brilhava mais forte que todas as outras.

Havia, além de tudo, outra insistente curiosidade naquele vento: uma voz, ou, talvez, um canto, sim, sim, certamente um canto, havia um canto acompanhando aquele vento, aquela brisa, havia um canto ecoando para todos os lados junto daquele vento e as vozes desse canto enchiam o ar de amor, com ele, chegavam ao universo.

Houve um dia no qual soprou uma brisa cheia de esperança, pois a própria (e única) esperança dormia um sono velado por uma pobre manjedoura.

Nenhuma brisa poderia soprar mais amor que aquela que levava as vozes que anunciavam “O Salvador chegou…”

“E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”
Mateus 1:21

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


Como posso dizer
"amo-te" sem ofender?
Dizer "quero-te" sem merecer?
Sabendo que querer-te é
em verdade, eternamente não ter
não mais ser, como estrelas que apagam
e, rapidamente, fulminantemente, se alastram
esse não ser é uma estrela morta

como posso dizer
que desejo teu riso contido
meio para baixo, meio não dito?
sem provocar essas tão temidas rugas de preocupação
em teus olhos, em tua testa

como encontrar arestas?
portas abertas onde elas
ainda não tenham sumido
e levado todas as cores junto
pois passas, passos sonolentos

queimar memória
como brinquedos de plastico que estouram

esquecer um sentimento
é perder o sentido de existir

é rasgar uma nuvem por dentro
conter o mundo no pingo de um i
trincar, toda de uma vez, a porcelana da vovó

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sobre Meninos e Reis

Quando criança, ele nunca matou formigas usando lupas. Nunca chamuscou o rabo dos cachorros para vê-los correr, doloridos, pela praça. Nunca jogou sal em cima de sapos para matá-los, nem colocou brasas incandescentes perto deles para que as engolissem, para que fossem queimados vivos por dentro.

Quando criança, ele sempre foi uma boa criança. Era o primogênito, o preferido, o queridinho, o pobrezinho (quando se machucava, mesmo que por sua própria desatenção), o que ganhava melhores presentes (ah, aquele trenzinho com uma ferrovia completa!), o que tirava boas notas, o primeiro a ser escolhido, o último a perder...

Quando criança, apenas foi reprovado uma única vez. Não foi na escola, tinha as melhores notas (sempre). Em que então? O leitor desavisado pergunta. Foi reprovado a mesa de jantar.

Tinha por volta dos 6 anos e já era-lhe atribuída a honra de sentar ao lado do pai, o rei, na mesa de jantar, mas foi por essa honra que acabou por se descuidar e cometer seu primeiro e mais fatal erro na vida. Ao terminar de comer, ele se esqueceu de usar o guardanapo e limpou-se com a blusa de algodão azul marinho.

O menino que seria rei esqueceu-se de usar o guardanapo.

Logicamente, o leitor argumentaria, esse não é um erro tão capital. Talvez, eu diria, para um menino, mas não para um menino que seria rei.

Assim como as pessoas amorosamente importantes dentro de nossos corações, os reis são invisivelmente gigantes. Tão grandes que podem matar pessoas ao se sentar, ou ao caminhar, do mesmo modo que, quando há uma pessoa assim dentro de nós, ela pode quebrar-nos com um mero espirro.

Não que o reino seja pequeno para que o rei tenha tanto poder. Não que nossos corações sejam apertados para serem despedaçados por dentro por um espirro. Mas os dois têm a força e a delicadeza do vento. Ilógico, caro leitor, ilógico.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ruas


Recusei-me a escrever teu nome
Mais de ti em meu mundo
Mais do teu cheiro que me consome
Dentro do meu sonho mais profundo

Recusei as frases bonitas
Nas linhas cheias como mares
Nas canções dos teus cantares
Das falas das personagens bem ditas

Lavei as ruas com saudade
Pois teu nome estava em cada recando da cidade

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Canção antiga

Deixa eu mudar
A tua vida em passos lentos
Feito alguém que nunca mudou
Deixa eu fazer na tua vida um pé-de-vento
Feito quem nunca se apaixonou

Agora vamos ver os sonhos de uma menina
que rodopia
no meio do salão
sem saber
que a observo
com o coração

Deixa eu sorrir
Da minha vida em invento
Feito alguém
Que nunca sorriu

sábado, 15 de janeiro de 2011

Poesia espacial numero 6

Aquela linda astronauta
esqueceu de apertar alguns botões ao sair da nave
e colocou novamente em pauta
um antigo e orgulhoso entrave

pois no espaço perdem-se os dias preguiçosos
transformam-se automaticamente em revoluções
apenas revoluções de um modo repetidamente ocioso
restam apenas as luzes chamando nossas atenções

brilha e brilha esse preocupado painel
sem saber que meu amor já se esconde por trás desse estrelado véu

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cinderela desvairada

Não acredite que meu amor durará para sempre, que terás sempre em mim essa força de aço inoxidável jazido em cima da mesa de jantar como o perene anuncio de quem ainda está por vir, não acredite nos meus sentimentos sonhadores, porque até meu amor sonha, perdoe-o por se achar tão verdadeiro, não acredite em nada que eles dizem, não acredite nessa verdade enlouquecida, acredite apenas que meu coração não se encontra são e essas palavras são só bobagens, aquele falatório dos loucos varridos às paredes.
Não acredite em uma só palavra amorosamente contida que pronuncio, a própria pronuncia já não importa, não acredite que essas flores são flores de amaranto. Não acredite em meus bons sonhos, creia apenas que eles são divagações insanas que a insônia toma. Não acredite na vagarosidade de meu esquecimento, acredite que ele é como o vento, que minha memória tem vencimento, prazo de validade, estoura muito antes da meia noite como uma desvairada Cinderela.
Não acredite nem mesmo na minha insônia, se sonho, como posso tê-la? Vê como são inconsistentes esses meus falatórios?
Não acredite quando meus olhos se abrem, eles foram desmatados.
Não acredite e estarás profundamente errada...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

E assim vai...

esses lugares onde atravesso
esses tremeluzidos da água
essa página que engole o sol
se tornando assim um verso
iluminado como eu não esperava
pequeno como eu não queria

de fato da menor das folhas secas
sairá o mais belo poema do dia