terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Insônia

Não se enganem tentando procurar soluções para a insônia em livros científicos, não é neles que encontrarão as respostas para dormir.
Também não procure remédios milagrosos em propagandas da TV, desses que prometem o céu de um sono tranqüilo. Não, não é bem assim.
A insônia não está aí para ser domada, ela não pode ser domada, muito menos domesticada. Ela não é aquele cavalo bravo, nenhum mustang das estepes norte-americanas.
O mais próximo, o realmente mais próximo, que você chegará de uma boa explicação sobre a insônia são os livros de fantasmas e almas penadas. A insônia não é nada mais que isso: uma alma penada.
As almas das histórias de terror continuam na terra porque algo ainda as liga a nossa realidade, seja uma pessoa, um objeto, lugar ou fato. Isso é a insônia e é do mesmo jeito que ela funciona. Igualmente a alma penada que continua acorrentada a esse mundo, a insônia nos liga ao dia que passou, talvez, pelos mesmos motivos.
A insônia é o desejo que o dia não acabe.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Misantropo

“Misantropia, do grego μίσος (ódio) e άνθρωπος (homem, ser humano) é a aversão ao ser humano e à natureza humana no geral. Também engloba uma posição de desconfiança e tendência para antipatizar com outras pessoas.”

Eu nasci no inverno.
Aprendi a ser frio como ele e desse jeito a misantropia quase tomou conta de mim. Fui tentado a ela, Deus, como fui tentado a ela, fugi pelas vias do coração. Ele resolveu seguir por caminhos mais movimentados. Há quantos anos já nos vemos? Com esse, acho que serão vinte e como sempre iremos nos olhar e você dirá “tenho mais uma coisa a te ensinar” e vai querer me levar novamente aquele isolamento frio, não conseguindo, vai me mostrar novamente como ser tão frio.
Eu morro a cada inverno.
Eu morro de frio a cada inverno que passa. Morrerei nos que passarem. Congelarei e ficarei como uma estátua que me lembrará como sou gelado ao toque e ao coração, ao lábio que tentar beijar minha face, ou ao toque da mão.
Eu derreto todos os verões.
É aquele Sol. Ele me mata também. Ele me derrete, mas é para sempre. Ele vem e me mata, sempre me mata, e, diferente do inverno, não volta no próximo ano, ele continua aqui, esse Sol e, depois de me derreter, depois de tirar todas as minhas defesas, depois de me mostrar como sou pequeno, ele vai, me deixa com o inverno, para resistir a ele. Resistir a misantropia.