sexta-feira, 19 de junho de 2009

O velho tempo


O tempo é uma canção que não precisa de vozes para ser cantada. Ele é o esquisito da esquina, que passa e repassa solitário feito quem não quer nada com a vida, feito quem não quer nada com ninguém, feito quem não precisa de ninguém para ser feliz. O solitário da esquina é louco pelo tempo, ele é solitário pelo tempo, solitário como o tempo.
E ao afirmar tudo que sei sobre o tempo eu também afirmo que ele é louco. Quem passaria a eternidade solitário? O tempo. E em sua loucura ele faz com que a eternidade passe, e a eternidade o acompanha, seria ele não tão solitário como imagino?
O tempo é a vida de um imortal, um bom encontro casual mostra o quanto ele pode facilmente nos enganar, fazendo-nos pensar que ele passa rápido quando na verdade ele nem mudou, como o rosto que não se deixa arranhar pela velhice.
O tempo diz, mesmo sem uma voz para dizer, mesmo que ninguém consiga o acompanhar de tão próximo para que ele sussurre ao ouvido, ele diz quem vai juntar dedos e cordas ou dedos e cabelos e então me gritou para que os acordes fossem companheiros de meus dedos.
Fielmente creio que, assim como o homem não criou Deus, ele também não criou o tempo, o tempo não foi inventado, ele foi gritado, e esse grito ecoou por toda a parte eternamente, agora me perguntem se houve um dia garganta para gritá-lo...
O velho ranzinza fura bolas que caem em seu quintal para não deixar que a borracha da pelota lhe ultrapasse em anos os anos ainda em forma.
O velhinho sorridente e rechonchudo dispensa elogios, sabe que está ficando careca, passa a mão na lisa cabeça e sente o tempo dizer-lhe para não se preocupar, ela ainda tem os dela, seus dedos ainda tem os cabelos dela para passar, e os acordes para soar.
Fez-se a música do tempo. E o homem imerso no meio dele cogitou-se em que tom ele cantava para perceber que aquele som não pararia nem sequer um dia.

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Foto por Chacon, UFRN, dou um doce pra quem descobrir em que parte exatamente.

2 comentários:

Srta. Pinheiro disse...

os velhinhos rechonchudos são os mais felizes. =)

(é a árvore daquela parte do setor II? )

Srta. Pinheiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.