sábado, 17 de outubro de 2009

Me atrasei dentro de mim

Cedo ou tarde me colocarei em desvantagem por não descobrir como eu posso virar vaso de flor, não descobrirei por pura sorte e por querer não descobrir, não querer achar e então, perdido, acabarei atrasado dentro de mim.
Cedo acordei por pensar que era tarde e então voltei a dormir o sono dos vigiados de perto, o sono daqueles todos que ouvem música ao sonharem, voltei a dormir as sapatilhas de bailarina de uma filha, voltei a sonhar os cantos dos interruptores e acabei me atrasando dentro de mim.
Foi tarde do dia que a noite passou despercebida. Foi há muito tempo que o tempo parou para ajudar a levantar, não há como ajudar a levantar sem parar. Foi nas fichas de fliperama e nos números entre um e doze que acabei atrasando dentro de mim.
Havia CDs e LPs espalhados por todos os cantos da casa quando os cantos da casa anunciavam a vida que viria embalada em papel de jornal. Havia imagens e recordações penduradas nos dedos das mãos quando as engoli como morango. Não importava o quanto espalhava as coisas penduradas, acabava me atrasando dentro de mim.
Aprendi cochilando as regras dos jogos mais complexos. Jogos de amar. Cortei com as mãos tudo que esperei pelo tempo que joguei. Não eram só jogos, nunca foram nunca serão, mais pareciam labirintos, e, quanto mais os adentrava e procurava saída, mais eu me atrasava dentro de mim.
Tentei encontrar saída e me atrasei dentro de mim, vasculhei atrás dos quadros a procura dos perfumes passados e me atrasei dentro de mim, tentei acender lâmpadas que não estavam lá depois da ceia e me atrasei dentro de mim, tentei chegar na hora certa de voltar, mas me atrasei dentro de mim.

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