sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Não mais

Não mais endereçarei minhas cartas. Anônimo eu não serei mais, mas, quem se dispuser a recebê-las, secreto não será mais o admirador, o tempo que está por vir faz não conhecida qualquer que seja a caixa de correio que se configurará morada breve, qualquer que seja o relicário que se transformará em asilo de letras mal feitas, ou museu de documentos antigos, de curador esquecido, pelo tempo, engolido.

Não mais saberei se é certo fazer concreto um pobre sonho, não que ele seja pobre de detalhes, detalhes não faltam nas histórias criadas durante o sono, o sonho é pobre porque é generoso demais. Ele se dá a quem sonha. O sonho se dá ao sonhador. Não mais terei tal certeza, não porque deixarei de sonhar, mas porque deixarei o concreto pelo caminho, não construirei nada com ele.

Não mais descobrirei janelas em paredes tortas, todas serão quadros de Monet ou outro famoso francês, nem reestruturarei meus castelos no céu depois de ruídos e espalhados em nuvens acinzentadas, os deixarei chover.

Não mais me acharei em estrelas alheias. Um ponto no escuro ralhar dói nos olhos, na retina do coração, mas é uma dor boa, dor de mudança, mudar cones e bastonetes. Acharei o silencio, um silencia em mim, que me levará novamente a tranqüilidade das paisagens bucólicas.

Não mais continuarei nessa história, não porque ela não tenha acabado, ela acabou inacabada e é por isso que saio sem despedidas espetaculares, só com palavras de adeuses mal ditos que são , por si só, espetacularmente tristes do meu ponto de vista. Não vou mais desabafar na imaginação que um dia foi tudo que tive, não, não mais.

...

Não, mas as cartas você um dia lerá, publicarei em algum livro por pura diversão.

Vou fechar sem piedade as janelas que não soprarem som, assim como o sonho que não se der.

Não mais tentarei entender teus sinais que não cabia entendimento e que eu lutava para guardar, nem a tua caligrafia que eu imaginei arredondada. Não mais tentarei guardar teus olhos que eu sonhei amendoados.

Não mais.

Um comentário:

J. C disse...

Cansado...
Deixa corpo e mente serem levados ao acaso talvez destino(?), ao misterioso anônimo junto de suas palavras da imaginação, e de todos seus sonhos. Não procurará mais construir visões para seus horizontes, nem cansadas reformas de ti, muito menos achar-te iluminado em meio ao seu escuro, nem muito menos continuar nesta gradativa historia, fluirá inacabado ao acaso sem motivos para palavras de despedidas...


texto interessante, bela a parte:
"...nem reestruturarei meus castelos no céu depois de ruídos e espalhados em nuvens acinzentadas, os deixarei chover."

essa minha visao do texto, n sei s efoi realmente o que quis dizer ;)

:*