terça-feira, 20 de novembro de 2007

Perto

Eu queria consertar minhas asas quebradas pra poder voar novamente pelo céu da noite escura enquanto ninguém me vê, os únicos problemas são os olhares pelas janelas dos aviões e os vizinhos xeretas.

Dos primeiros eu posso me esconder enquanto eles lêem, confortáveis, as revistas entediantes de avião.

Mas os vizinhos...

Esses querem te puxar pelos pés enquanto você flutua para o céu, xeretas, na verdade invejosos, esses querem toda sua felicidade.

Há dois caminhos para se voar.

Não saber o que é voar.

Ou saber que se voa toda vida que se tenta voar.

A felicidade está na eterna busca pela felicidade.

As estrelas seriam tão belas se não fosse a utópica distancia que nos separa?

Prefiro meu pequeno coração alado, onde cabem tantas estrelas, e o sorriso iluminado de cada uma, a poder tocá-las, pois aqui elas estarão tão perto que a mão não pode alcançar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TIC TAC

Às vezes é necessário que deixemos os fatos acontecerem de modo natural, deixar que os fatos sejam fatos naturalmente.

Será que um dia aprenderei como perdoar tudo? Eu sei que há motivos para perdoar, mas ainda há farpas, coisas tolas, mas que machucam, e a dor está na dor das pequenas coisas.

Todas as vezes que penso no passado parece que não foi muito longe, aquele perfume, e aquele azedume, tudo.

Dar um tempo. A vida vai mudar, vai ficar melhor depois, foi o que prometeu, e a despedida pareceu o primeiro beijo, vai ser melhor, vai consertar o que ficou.

Hoje eu sei, vivo de novo por que a vida insiste em viver, a vida quer mais vida, a vida pede por mais vida e ela grita aos quatro ventos sua vontade.

Aquela vida se foi, para entrar uma nova em seu lugar.

O tempo é um amigo indispensável para todas as horas.

Dar tempo ao tempo para que o tempo possa mostrar-se necessário como um médico tardio, que examina o paciente em estado terminal.

Dar tempo ao tempo para que ele possa nos dar rasteiras.

Dar tempo ao tempo para que ele possa caminhar por avenidas de cetim.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Chave de Rodas

Embola, gira, roda chave de rodas,

Amola essa cegueira do amor

Girando os parafusos,

Todos tão difusos

Daquilo que esperavam de mim:

Retos riscos, ricos sem pavor

Riscos em ritos sem riscos

Sempre na direção que meu vento

Esteja soprando a favor.


Embora, gira, roda chave de rodas,

Afina essa gagueira da garganta,

A voz ainda sai como cristal rachado

Pedaços incompreensíveis, mal arrumados

Todos quebrados, mas os detenho,

Presos pelo ar como desenho,

Sonoro desenho de criança.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Fim, suplício, começo, recomeço, recomeçando a amanhecer.

Morro de amor, mordo minha pele de metal reluzente, tiro tiras de atadura para fazer um cordão que cabe em volta do pescoço, mas que cabe, também, um coração.

A dose de veneno, dos bons venenos, é tão amarga, desce tão devagar, abre o peito tão lento, ele já bate lento, cansado dessa vida de fim de festa, de ser expulso pelo garçom às quatro da madrugada às vassouradas, junto com o lixo.

Que martírio é ter que suplicar, é ter que ouvir minhas próprias súplicas, pedindo para que ele obedeça a ordem de despejo. Vá e pense muito bem a respeito do que você fez!

Assobiar pelas ruas, só. Aquele cara sério continua a caminhar e assobiar em si bemol, para bem em frente daquele prédio que tem uma porta que dá para o rio, o sol reflete seus últimos suspiros do dia na água poluída, ele volta, pega o ônibus lotado. Tanta gente, e o mundo agora já não faz mais par.

Voltando a servir-se de vida, voltando a ser sério, de volta ao ser sério, é difícil não ter planos Bs, mas continuar é preciso, desmanchar a renda para tecer uma nova é necessário, marchar para o fim certo, pois os motivos que nos trouxeram até aqui já são incertos. Tricotar uma nova camisa para a era de frio, ou esperar que o sol traga o desgelo.

Esperar que o sol reamanheça, que ele reapareça para a época da luta, e os gestos não serão apenas de agonia, viver assim é melhor.

No fim de tudo, tudo está claro, no fim de tudo, tudo bem, o antídoto venceu o veneno, uma solução que hospeda a razão de viver, uma razão que dá conta da vida nova, que voa pela janela procurando não-sei-o-que, em duas vidas quero viver, com todas essas personagens pretendo achar a melhor, uma que seja eu.

No fim de tudo, voltando a viajar, voltando a me alinhar, sem incertezas, com o oposto da dor, disposto a alinhar os olhos, os sorrisos e os pés, a falta de amor é uma personagem sem fala, inexpressivo, ele simplesmente foi mandado embora, ficou o bom coração que faz dupla com o que acaba de voltar do canto da sala.

No final deixarei tudo claro, no fim, fica tudo bem claro.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Lê em pensamento. Pensa alto de mais.

Todas as noites ele sonha com ela. Todas as noites ela é aquela em seus sonhos e ele é aquele que não sabe para que vive. Ele é amigo dele mesmo, anda de pés descalços pela calçada, e agora, sopra sua própria vela de retalhos, todos da mesma cor, ele é o vento galopante, errante, errado, torto, que nunca acerta a direção.

Pra quem ele vive? Ele é dois em um. Ele crê em sua própria caminhada, ele dá giros e giros em volta de si mesmo sem sair do lugar, mas indo mais longe do que qualquer um, em seu lugar, poderia ir.

Às vezes ele dorme muito mal. Pensa, durante o dia, se há sonhos, do outro lado da cidade. E se houverem? Como serão? Como um sonho de verão? Se for assim, quem tocará o violão, ao por do sol, vendo aqueles dentes sorridentes?

Ele não tem a cor que o vento gosta. Não tem o traço de linha reta, nem o caderno todo escrito em letra bela.

E durante o dia ele pensa. Viciou em pensar. Não consegue mais parar. Mas joga todos os seus pensamentos no armário da cozinha, todas as vezes que passa por ela antes de sair de casa. Ele quer fazer melhor que isso. Não quer só pensar alto, ele quer pensar em voz alta. Ele quer fugir de casa. Uma fuga que ele sabe que acabará em gritos. Gritos de alegria e de ira.

Ele enxerga mal, óculos enterrados no alto do nariz. Ele se força a calar, pois sabe, não só ela enxerga, como sente bem.

Susto. Hoje ela viu, hoje ela reclamou. Falou e desfalou, respirou, suspirou e jogou tudo nele, ralhou e ele a imaginou como sol, emudeceu e ele a seguiu com o olhar e ele se viu como girassol, e, por último, deu um grito.

À noite vai encostar tranqüilo ao lençol enrolado que chama de travesseiro.

Que os anjos vão a (in)festa(r) de sonhos (d)as tuas noites.

Que os anjos vão a infestar de sonhos as tuas noites.

Que os anjos vão a festa de sonhos das tuas noites.

Eles vão, não em vão.

domingo, 16 de setembro de 2007

Poeiral

Porta á fora

E vai a forra

Meu desejo


Bate hora

E vai embora

Com um beijo


Chega tarde

O que encarde

O que espera


Só um grito

Feito mito

Feito a fera


Vêm desculpas

E põe a culpa

Toda nele


Ele é vil,

Pois ele viu

E calou


Vagou só

Levou pó

Sob tapete


No final

Ele soprou

E foi festa



Agradecimentos à Thiago "Walmondes" Cerqueira

Para Angélica, que gosta do 3...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sobre ele

O amor vem do nada. Ele é um tímido incorrigível, mas acima de tudo, o amor é esperança.

O amor não é paciente, mas, mesmo assim, ele espera, todavia, nunca quieto, ele vence a timidez para ficar se remexendo dentro de nós, por que conosco ele nunca é tímido, só conosco.

Temo, mais que tudo, a cegueira, pois o amor está no coração, mas, sobretudo, nos olhos.

O amor é torta de limão, doce, salgado, azedo.

O amor é pastel, nos ruins, só vento, nos bons um interior quente, reconfortante e acolhedor, quase uterino.

O amor é um besta que passa horas esperando um ônibus, ou o carteiro, ele sempre esquece o bom senso.

O amor é imortal até em seu leito de morte.

O amor é A. Amoral. Atemporal. E atemporal em sua amoralidade.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Desculpas para as nuvens

Faz tempo que eu não vôo
Não sei se é o enjôo
ou por que descobri o algodão doce

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

! ?

-!

-?

-!!

-?

-...


-!!!

-?

-!!!

-!?!

-!

-!

Splesh

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Te parei porque te amo


A quantos quilômetros por hora eu preciso estar para você me parar? Avanço sinais, derrubo postes, placas de sinalização, mancho o pneu de branco, roçado do meio-fio enquanto você, sentada dentro do carro, parada no acostamento, delicia-se com uma rosquinha ou outro doce qualquer, displicência que me irrita. Acelero ainda mais.

Ele passa rápido, vejo a ira em seus olhos, finjo displicência, ignorância. Isso o irrita, sei disso, e a garota em seu passageiro se maquia pelo espelho do para-sol, óculos escuros no colo, um chiclete na boca, nem nota que ele não a nota. E eu apenas anoto suas multas que vão acumulando a cada passagem, a cada vez que ele passa por mim ele erra, já parece ter perdido até a noção do certo ou do errado.

Ela se faz de tonta, mas já é hora de passar só. E dessa vez o carro passa mais leve, me dá uma ânsia de acelerar, mas me controlo, quero que ela me veja vazio, quero que ela me pare, e ela o faz.

Faço-o parar com o barulho da sirene, e ele pára como se já esperasse por isso. Mando-o sair do carro, ele tropeça nas palavras, gagueja com as pernas, se segura com os olhos, fixos, espera com as mãos, frouxas.

- Eu estava dirigindo muito rápido, Moça Guarda?

- Não, te parei por que te amo.

sábado, 4 de agosto de 2007

Final Feliz

Alguns chamam de paixão de adolescente, não é bem assim. Podem me chamar de várias coisas, algumas veneráveis e outras... Nem tanto. Mas adolescente não é uma delas, faz tempo que uma senhora com um bebê no colo dentro do ônibus lotado agradeceu ao moço aqui por ter cedido o lugar. Por tanto peço perdão, mas os que chamam essa paixão, aquela que faz chorar, mas não aquela que dói naquela dor localizada, mas a que atinge todos os órgãos, de paixão de adolescente, estão enganados.

Amor sincero é coisa de todas as idades, e só as mais avançadas costumam falar delas com facilidade, expressá-las.

Ou o viúvo de suas seis ou sete décadas não sofre e chora de saudade do amor, de amar, da velha.

E a mulher de mais de meio século? Repreende-a por chorar em vão pelo marido soldado, convocado, usurpado de seu lar, trocado por um punhado de medalhas?

Então não venhas dar nomes aos de nem duas ou três décadas que choram por amor, por que para todos estes e outros virá agora e sempre um Final Feliz.

domingo, 29 de julho de 2007

Frases curtas

Ares mágicos de dias comuns.
Dias comuns que parecem durar mais do que a nossa percepção gostaria.
Percepção que não centra nas coisas certas.
E as coisas certas nunca parecem certas.
Por que tudo que parece certo é o errado.
Errado que sempre atrai.
Atração que sempre destrói.
Destruição que sempre dói.
Reconstruções lentas, deixando as coisas tão vulneráveis.
Vulnerabilidade crescente leva novamente a destruição, ou melhor, trás.
Atrás de mim correm os dias comuns.
Os dias comuns não servem para contar o tempo.
Só os dias mágicos.
Ares mágicos que a gente respira nesses dias.
Esses dias que enchem nossos pulmões.
Nossos pulmões que querem explodir e levar nossos corações.
Nossos corações...

terça-feira, 17 de julho de 2007

Voltando (e) a (de)vagar ...como diria a poeta...

Quis

Quis um dia nascer de novo, quis um dia voltar a te ver, quis um dia realmente te ver como eu queria te ver, quis ter doces e balas para antes de te beijar, só pra você sentir o mesmo doce que eu sinto.
Quis destruir tudo, quis sentar, paciente, e te ver reconstruir o que eu havia desfeito, quis te ajudar, quis parar com poemas tristes, quis escrevê-los só por diversão, quis anotar todas as coisas que eu te via fazer, sem ação.
Quis arrancar as páginas de minha vida, quis, sorrateiro, colá-las a tua, quis colar minha foto junto a tua, quis nunca mais te ver triste, quis colar teu desenho no meu.
Tudo isso eu quis, e assim, os céus responderam “teu desejo, é uma ordem”.

domingo, 10 de junho de 2007

Simplicidade

O olho esquerdo dela piscou para mim
Foi um lampejo exuberante de beleza inigual, pareceu-me deslocado, uma figura linda num varal de fundos distorcidos e enevoados, mas mesmo assim, mesmo como uma pérola em meio as ostras, eu fotografei aquele segundo com a mente, para nunca mais esquecer, para contar aos meus netos, recostado a cadeira de balanço, sobre o dia no qual ela piscou para mim.
Quando seus dois olhos voltaram a me ver, ela sorriu para mim.
Felicidade de mais para um pequeno coração como o meu.Era tanto espaço que o amor ocupava, mas mesmo assim ele mesmo fazia sobrar lugar para pôr mais uma, qualquer que fosse, qualidade ou defeito teu. E teu olhar e teu sorriso, só com um cantinho da boca, já estavam lá a muito tempo, mais do que você imagina, menos do que eu gostaria que estivessem.
Ainda sorrindo, segurou minha mão.
Estremeci da explosão que acabara de ocorrer, se meu coração não fosse tão bem apertado ao peito, pelo tempo que passei tendo que enclausurá-lo para que tu não desconfiaste dos pulinhos em tua direção, talvez ele tivesse pulado na minha frente antes que eu pudesse, em fim, encostar os lábios nos teus.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Prisão martírica antiinspiratória e coisas metalingüísticas

Escrevo estas palavras dentro do ônibus enquanto volto de mais uma aula do período da manhã, volto para casa depois de mais uma aula que, por sinal, dessa vez foi bastante proveitosa, pois não dormi nela, apesar de não ter prendido minha atenção no que o lente falava por nem um segundo.
O que eu penso agora é o incrível fato de tudo, absolutamente tudo, me inspirar tanto, apesar de, ultimamente nada vir a me inspirar.
Seco mar de idéias solventes de paz e amor, de felicidade e alegria, quatro barcos que agora encalham nas pedras dos arrecifes bem longe da praia e eu, dissolvido apenas por areia, misturado ao sal, tempero que agora só dói por trazer lembranças das minhas saudades, vejo-os. Martírio, prisão antiinspiratória que me desperdiça.
Há duas pessoas nesse momento atrás de mim, conversam em altas vozes. Elas sorriem uma para a outra nenhuma palavra me vem à mente (o mar continua estático). Um casal se entreolha dizem palavras que chegam soltas a mim, (uma onda?), mas continuo a escrever essas coisas ironicamente sem sal (tristemente apenas marolas) isso deveria me inspirar, geralmente me inspiram (como sempre vêm para causar tsunamis), mas nem mesmo um lampejo, nem mesmo a cor, agora verde das recentes chuvas, de tudo me faz vir algo a mente.

Minha parada se aproxima.

Gravo estas palavras em meu gravador de bolso para não esquecê-las mais tarde. Visão mais bela tive, só ela descendo de outro ônibus qualquer, graciosamente tropeçando nos degraus, divinamente de cabelos desleixados ao vento, coloridamente vestida de preto e branco, elegantemente vestida do modo mais simples (calmamente um maremoto).
Venci timidez, falta de inspiração e vendedores de tikets para chegar a ti, perguntar teu nome, puxar conversa.
Paradoxos, segundos para me apaixonar, meses para te beijar, anos para te dessolteirar.
Agora as ondas batem, como se nunca tivessem parado de bater, marolas são apenas anunciações de ondas mais fortes, o sal da areia dissolve-se e quatro barcos erguem-se, dançando no movimento do mar, no porto, perto de mim, atracados na praia.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Cronologia do tempo entre eu e você

É sonho, eu sei que é sonho, reconheço as linhas turvas que chegam a meus olhos fechados. Nele tento me mover, mas não consigo, pareço preso ou parece que meu corpo não obedece mais a mim, será que não é o meu corpo? Não sei. Aquele ali na frente parece tanto comigo...

É... Sou eu. E olhem... Lá vem ela a desfilar diante de minha vista. Será que demonstrei assim meu interesse nela? Pareço tão distraído do mundo, apenas ela tem minha atenção, minha deficiente, cega e tetraplegica atenção parece levantar e caminhar na direção dela e nela parar para não querer sair.

Também pudera... Ela é uma daquelas mulheres... É... Uma daquelas mulheres que Deus fez com as próprias mãos para mostrar ao mais cético dos céticos que existe, sim, um Céu a se alcançar.

Ela se aproxima de mim e encosta seus lábios nos meus, cela minha boca para que eu pare de dizer besteiras e cesse com minhas piadas desgraçadas e infames. E eu sinto esse cheirinho bom de café da manhã em sua boca e de travesseiro em seu rosto, vejo as marcas do seu lençol nas costas dela e sorrio, besta.

Então eu, como observador de mim mesmo a namorar aquela que amo, penso: como eu queria que não fosse sonho, como eu queria que fosse uma lembrança boa de algo já ocorrido que eu acordasse e lembrasse que foi ontem que todo esse acontecido aconteceu... No mínimo que esse sonho fosse uma recordação...

É ai que, entre o continuar a dormir e te ter em meus braços e o acordar para a incerteza de uma realidade que eu nem sei o quanto é real, penso mais uma vez: Em meus sonhos ou fora deles, caso ela não esteja lá fora, esperarei, esperançoso...

Então desperto, empurro o travesseiro, tento me espreguiçar, algo impede, tento empurrar algo ao meu lado e esse algo resmunga palavras que eu não entendo, “será que é o cachorro que subiu de novo na cama? Não, não é felpudo, mas sim, tem uma pele macia...” Abro meus olhos ludibriados ainda com as novas formas que as coisas tomam e olho, você, do meu lado, ainda dorminhoca, aquela que habitava meu sonho, tomou vida e deita-se agora ao meu lado.

Não foi o passado que eu vi, foi o futuro...

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Etc


Haverá lugar bom?
Haverá um lugar para ser feliz, com alguém?
Haverá paraíso que não seja o dos loucos ou dos mortos?
O que se é capaz de fazer por amor?

Eu me sentava todos os dias de segunda a sexta no mesmo banquinho e me deparava com a nuca dela, ou será que eu me deparava todos os dias com a nuca dela e resolvia sentar no mesmo banquinho? A minha direita e a minha esquerda, árvores, aceitando o céu e a mesma, de folhas cinzas, retas, fazia sombra e ventilava a mim e a ela. Banquinho desconfortável que eu aprendi a amar, manhã quente que eu aprendi a apreciar, lugar bom que eu encontrei quando, um dia, meio sonolento me descobri amando tua nuca nua.

Todos os lugares que nós vamos juntos ela me abraça, me empresta as penas das asas dela para que eu voe até o céu de estrelas que ela mesma pontilhou, me dá mordidas carinhosas e deixa marcado com o perfeito do torto de seus dentes na minha pele. Qualquer lugar que eu a leve, ela me beija, como se agradecesse por eu estar lá, com ela, feliz, por estar em qualquer lugar, comigo.

No inicio achei loucura. Daria certo? Nós nos parecíamos, eu a via estudando no seu banquinho, miúda, a achava tão inteligente, apesar de distraída de meu terno desejo, e me apaixonava cada dia mais pelo seu jeito de falar sozinha, pelo seu jeito de não me dar à atenção até que a sacolejei, mostrei-me vivo, e ela entendeu, hoje o sorriso dela é meu paraíso e meus braços são seu esconderijo para o frio, para os dias mil que passaremos ainda juntos.

O que eu seria capaz de fazer por ela? Você já pensou o que você faria por amor? Acho que muitos diriam “não sei” ou “depende” os mais trovadores repetiriam mil vezes “eu não sou o que se vê, nem ao menos o que se explica, tenho amor e isso já devia bastar. Faria qualquer coisa que fosse impossível, pois somente nas coisas impossíveis se inexplica o amor”. E eu? Por ela, por amor, eu faria tudo, exatamente tudo, entre o qualquer coisa e o etc...
Dedicatória: "Samyr" Mymy "Biscoito"

sábado, 21 de abril de 2007

Minhalma Tualma

Perguntas filosóficas sempre me vêm à mente, mas uma em geral me chama mais a atenção “quem sou eu?” Depois de muito meditar, cheguei a conclusão que sou apenas uma alma a muito enamorada por esse corpo terreno, vindo do pó, que pode tocar outros corpos.
Corpos lascivos de mulheres que minhalma tenta projetar-se no espaço para alcançar, mas nunca consegue, pois o corpo mais deslumbrante, aquele que eu nunca ousei imaginar nu, para não perder a divindade que eu criei, dono da mente mais bela, enclausura a alma que mais anseio alcançar.
Sim, esse corpo-prisão que senta ao meu lado para fazer contas, para falar de outros, para explicar-me como quer que o gênio faça seu príncipe, que eu acompanho todos os dias, ao pôr-do-sol, até seus bichanos.
Certo dia aqueles dedos até me fizeram carícias, andaram, marcharam, sobre minha pele, me evocaram para receber outras.
Mas, perguntou a outra prisão sobre algo que eu não poderia saber, envergonhado, apenas taquigrafei em meu caderno as coisas que vim a te falar, um dia... Foi nesse dia, veja só, foi hoje, que recitei todos os meus poemas a ti, só alguns dias depois de, devido a alguns fatos, ter visto uma corrente em teu calcanhar. “Porque?”, perguntei-me “porque te prender a outra prisão?” Indaguei-me se essas correntes iriam para muito longe, ou para alguém por perto, talvez alguém que eu conhecesse...
Segui-as desesperado, pois eu queria saber quem escolhestes para viver contigo, seja quem fosse eu desafiaria! Por ti, combateria até a morte!
Ah, doce morte... Não se sofre quando se morre fazendo o que se ama. O surfista não sofre quando arrebenta seu crânio nas pedras, pois morreu surfando, o maratonista não sofre se morrer correndo e os que amam, não, esses não sofrem quando morrem de amor...
Mas, tamanho foi o meu espanto quando vi, depois de tropeçar, puxado pelo calcanhar, chegando em mim, a ponta da corrente que, saindo de ti, vinha em mim ter um fim.

Texto dedicado a um amigo que sabe quem é...

domingo, 15 de abril de 2007

Areia de ampulheta e algumas medidas

Eu sou do tipo sério, que se apaixona, que não olha para outras garotas, mesmo com anos longe, sem contato, sem um afago.

A maioria não entende como eu fico sozinho e continuo a pensar no mesmo alguém, ou como passo dias e dias fora e fico, fixo, continuo, fiel, mas é simples de entender, a felicidade torna-me fiel. Se não me tornasse eu seria arrogante como todos aqueles que escutam meus devaneios, provindos de noites insones, e duvidam. Dão nomes a mim. Até parece acharem conhecer o sentido da vida... Nem meus amigos advogados têm pretensões tão insolentes.

Mas, e quando a felicidade me foge, quando ela, escorregadia, desliza por entre meus dedos e vai-se como a areia da ampulheta?
Tempo que vai e leva grãos de felicidade junto de modos que agora só me restam os da esperança.
E era ai que estava meu corpo, morto, velho e fraco de marcas impressas pelas tempestades de areia.

Foi quando tudo virou, uma nova vida, você, virou tudo... Por um instante achei estar tudo de cabeça para baixo, mas quando vi, a areia caia de novo, com mais felicidade, perfeita. Se em mim há um molde para um alguém perfeito, implantado por um anjo, tu foste a querubina de quem ele tirou todas as medidas.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Sempre te quis

Sempre te quis, desde o dia em que nasci, talvez antes, mas não sou tão otimista. Talvez eu não tivesse o conhecimento de tua existência, mesmo sentindo, eu não queria acreditar. Lá de dentro do meu mundinho redondo, que eu observava de dentro, só me lembro que era tudo tão escuro e reconfortante.
Confesso que chorei quando nasci... Mas era de alegria quando tomei conta do mundo no qual estava entrando, era um mundo no qual você existia.
Nos primeiros dias eu te procurava, mas por não encontrar, por anos esqueci, até que um sonho fez com que eu traísse o que sentia ou sentisse que me traí ao esquecer da sensação infantil de notar-te no mundo.
Foi ai que, mais uma vez, te procurei, com todas as minhas forças e até em outras moças eu tentei loucamente localizar-te.
Andei, chorei, é chorei, pulei de alegria pra cair no abismo do desespero dos mais desesperados dos desesperados e sentei, no cansaço de um desalentado para perceber que sentastes bem ao meu lado.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Primeiro beijo

Ainda bem que ela não me viu, duas semanas escrevendo aquela carta, para colocá-la sobre a mesa dela, uma fuga da minha aula, bem em um intervalo entra as dela, acho que aquele garoto alto me viu saindo, tudo bem, ele mal fala com ela, nem vai se importar, o importante mesmo é que eu tive coragem suficiente para me certificar que ela lerá...
Angustia da espera sem resposta... Serás, talvezes, quens sabens... Se ela ao menos se mostrasse disposta a me encontrar, ou modificasse o tom de voz que desfere contra mim, aquele tom de quem, mesmo dizendo “como vai”, diz “olha-me, vê como sou bela, ama-me, te dou o céu de meu beijo, te dou a dor de um fim”...
Sou um animal esperando a dona, ela vem até mim e sento-me, obediente, na obediência dos amantes.
Ela é uma rainha olhando seu súdito, eu a olho e ela contra ataca meu olhar, soberana, na soberania das amadas.
Palavras me faltam, sempre me faltam, sempre escavam na terra para se esconder do sol de olhos tão bonitos, que miram, rasgam pele, carne e alma.
Mas agora parecem eclipsados, estavam tão perto, agora não os vejo mais, fecho os meus. Agora, Lábios. Primeiro beijo.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Ola

Bem... Aqui estou eu. Com todas essas flores e chocolates nas mãos e sem saber o que dizer...
Será, ao menos que ela está em casa? Ou foi apenas um anjo que eu vi passando pela janela? Não, não... Era ela! Com todas aquelas sardas, que eu já decorei, coordenada por coordenada...
Distraí-me, enquanto os pássaros cantavam para dormir e o meu pulso pulsava fortemente, me dando aquela euforia que me invadia a mente me fazendo desejar revê-la, me fazendo querer arrombar a porta ou, no mínimo, deixá-la torta para que eu pudesse passar, para que mais uma vez eu a pudesse encontrar, só pra desferir um amoroso e singelo “ola”.