quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Entrada

Quando você entrou atrasada na minha vida e começou a gritar sem razão foi o momento exato em que eu comecei a fingir que não era comigo, quando você entrou na minha vida foi o momento exato do desapego moral, o momento no qual me dediquei a não aceitar troca ou devolução, era pra já, um amor fulminante, fulminante como um ataque cardíaco que nos leva escada a baixo, um amor fulminante como o amor e eu fingia que ninguém havia entrado, achava que a chave da porta seria um secreto achado, acreditava fielmente que todas as janelas estavam fechadas e que aquela leve brisa de primavera era a calefação que saia pelos poros da casa. Quando você chegou atrasada na minha vida e roubou a minha vida de mim foi o momento exato que eu comecei a acreditar, foi o momento da perfeição, o momento de limpar as calhas sujas de folhas secas e as espalhadas pelo jardim de tantos outonos, de juntar as folhas, de jogá-las fora, de não mais precisar me vestir com elas. Enquanto você entrava, eu a recebia na varanda, na cadeira de balanço que era onde eu me recolhia para amar.

Um comentário:

Deyse Nara disse...

Agora sim, branco. Com um pouco de amarelo, mas a fofura de sempre.