sábado, 7 de novembro de 2009

Estações

Abrir as janelas em doces verões
Na loucura que se configura meu olhar
Sanado apenas pelas insolações translúcidas
Verdes acastanhadas belamente meladas
De caminhos luminosos de ver

O comum calor agora se intensifica
Assim como os dourados das peles
Como o desabrochar da brisa quente que fica
Ou o orvalho dos dedos substituídos rapidamente
Pelo suor que desce displicente

É então que a água em banhos marítimos
Vem como furacões alheios a falta de ar
E os pés molhados pelas ventanias de ondas
Esquecem o calor que choveu do chão
Preguiçosa estação

O outono enche de amor os dias e as imagens
Como se o amor mudasse de cor
E se tornasse o marrom que cobre o chão
Só para chover em cima daqueles que passam
E dar mais trabalho ainda àqueles que o guardam

É quando ele se torna as folhas caídas
E dá alegrias aos que o aguardavam
Aguardam tudo cair do céu como um poente
Como a lua que cai no mar ainda quente
E espera o marinheiro chegar

É então que cada folha ganha a liberdade
Que só teria se fosse flor
De acariciar, sorrateira, mas certeira
Os cabelos das passantes desavisadas
Sagaz estação

Quando chegam os cheiros, quando chega a voz
Quando os odores disparam como luzes
Quando essas flores encandeiam sentidos
Quando todos resolvem poetizar
Quando tudo parece querer ser poesia

Fica parecendo que o dia criou asas
Ou que as asas criaram os dias em ninhos
E os deixaram ir de repente.
Os dias foram embora e só deixaram cores
Que passam horas coloridas e distantes

Partos são primaveras gritadas
Primeiros beijos são primaveras silenciosas
Olhares são primaveras rasgadas
Conversas são primaveras ociosas
Criativa estação

O frio chega inevitável como a vida
Chega como a amiga querida
Que deixou seu castelo e veio a cavalo
E me faz entender porque me calo
Diante de toda pele macia

Chega inabalável em sua força fria
A procura de abrigo deixa de ser escolha
Nos abrigamos em espaçosos corações
Apenas abertos pelo segundo do piscar
Para aquecer, para fazer crescer abraços

Então nos vemos encobertos pela neve
Que, alheia ao desejo que ferve, nos espreme
O inverno nos torna flores e nos junta em buquês de lírios
Temo descobrir no inverno, na falta de calor, teu amor
Descoberta estação