terça-feira, 21 de abril de 2009

Minha rua

Outro dia cheguei cansado aqui em casa depois de pegar um ônibus levemente lotado.
Estava chovendo. Não era uma chuva muito grossa, mas eu estava bem ensopado, muito mais pelos carros que passavam, enquanto eu andava na calçada, e jogavam água em mim, mas enfim, o caminho da parada onde o ônibus me deixa até aqui em casa é um pouco longo, de modo que tive que caminhar um pouco na chuva, quando cheguei em frente a minha casa eu parei, parei na calçada e fitei a rua.
Eu observei cada paralelepípedo, cada pedra do asfalto, cada uma a seu modo parado cantava a rua inteira. Fitei os postes já acessos lamberem a rua toda com suas luzes amareladas. E a chuva que lavava. Primeiro pensei em quanto tempo passei sem ver a chuva cair na minha própria rua. Depois me deparei abismado com a possibilidade de nunca mais ver a chuva cair ali, ao menos não daquela mesma forma (pensamentos de morte têm me tirado o sono nos últimos dias. Fico devendo explicações, pago quando der). E no final o que mais me impressionou foi o fato de nunca mais eu ter parado para olhar a minha própria rua.
Será que foi falta de tempo? Mas eu sempre passei por lá todos os dias! Passei aqui todos os dias! Como eu não pude ver tantos desenhos formados pelas pedrinhas? Como eu pude deixar de ver e de lembrar cada momento? Será que sou um estranho em minha própria rua? Será que eu não entendo minhas próprias armadilhas de brincar? Ou será que sou um estranho que não se sente bem? Um esquisito até para o próprio nome...
Não resisti. Parei, sentei no meio fio junto as pedras e lavei, e cantei, e chorei a rua também.

Um comentário:

chico m guedes disse...

este também me encantou.

que vc mantenha sempre os sentido abertos pro mundo imediato e o coração aberto e simples assim na hora de escrever... é um raro dom
Alberto Caieiro lhe diz alguma coisa?