quarta-feira, 29 de abril de 2009

Auto-entrevista

Laconicamente falando, quem é você?
Sou cabeça dura, insisto em amolecer.
E se você tivesse mais um segundo?
Eu pararia o tempo.
Quantos anos você pretenderia viver, se fosse dado a ti a eternidade?
Depende. Raramente me interessaria em viver tanto tempo, sabendo que o tempo certo já está lá, mas viveria o suficiente.
E quanto é isso?
Viveria qualitativamente o verbo viver.
Qual a sua visão do ideal?
Ela é inatingivelmente bela, tão bela que espero, por hora, não vê-la, tenho medo de ficar cego com a visão da perfeição ideal. Acredito que me falta muito preparo para tal.
Maior medo?
Ficar cego.
Por quê?
Primeiro porque já sou quase mudo. Me comunico pelos dedos. Segundo porque, além disso, falo, principalmente e primordialmente, com os olhos, se ficasse cego, ficaria também surdo e mudo. E meu amor!? Meu amor está nos olhos, nas lembranças visuais de detalhes do piso irregular que soltava a terceira cerâmica contando a partir do pé direito do sofá junto a parede e nas expressões abobadas que só eles sabem mostrar.
O que você mais gostaria de fazer nos próximos dez anos?
Ir até mim mesmo. E ficar lá, mas não muito tempo, depois me mudaria para plantações onde nascessem tantas raízes fortes quanto as que eu pretendo achar no caminho até mim.
E para finalizar, qual seria seu melhor final feliz?
Ah! Essa é fácil! Com neve!

3 comentários:

chico m guedes disse...

Que belo texto!

A visão do ideal, inatingivelmente bela que não se quer ver, me fez lembrar 'A máquina do mundo', pra mim o poema mais bonito e profundo de Drummond, conhece?

Josie Pontes disse...

eu tava ouvindo a música qndo fiz a poesia...=x

Josie Pontes disse...

"Laconicamente" que vocabulário fértil!

Amei o texto meu amigo lírico!