quarta-feira, 2 de maio de 2007

Etc


Haverá lugar bom?
Haverá um lugar para ser feliz, com alguém?
Haverá paraíso que não seja o dos loucos ou dos mortos?
O que se é capaz de fazer por amor?

Eu me sentava todos os dias de segunda a sexta no mesmo banquinho e me deparava com a nuca dela, ou será que eu me deparava todos os dias com a nuca dela e resolvia sentar no mesmo banquinho? A minha direita e a minha esquerda, árvores, aceitando o céu e a mesma, de folhas cinzas, retas, fazia sombra e ventilava a mim e a ela. Banquinho desconfortável que eu aprendi a amar, manhã quente que eu aprendi a apreciar, lugar bom que eu encontrei quando, um dia, meio sonolento me descobri amando tua nuca nua.

Todos os lugares que nós vamos juntos ela me abraça, me empresta as penas das asas dela para que eu voe até o céu de estrelas que ela mesma pontilhou, me dá mordidas carinhosas e deixa marcado com o perfeito do torto de seus dentes na minha pele. Qualquer lugar que eu a leve, ela me beija, como se agradecesse por eu estar lá, com ela, feliz, por estar em qualquer lugar, comigo.

No inicio achei loucura. Daria certo? Nós nos parecíamos, eu a via estudando no seu banquinho, miúda, a achava tão inteligente, apesar de distraída de meu terno desejo, e me apaixonava cada dia mais pelo seu jeito de falar sozinha, pelo seu jeito de não me dar à atenção até que a sacolejei, mostrei-me vivo, e ela entendeu, hoje o sorriso dela é meu paraíso e meus braços são seu esconderijo para o frio, para os dias mil que passaremos ainda juntos.

O que eu seria capaz de fazer por ela? Você já pensou o que você faria por amor? Acho que muitos diriam “não sei” ou “depende” os mais trovadores repetiriam mil vezes “eu não sou o que se vê, nem ao menos o que se explica, tenho amor e isso já devia bastar. Faria qualquer coisa que fosse impossível, pois somente nas coisas impossíveis se inexplica o amor”. E eu? Por ela, por amor, eu faria tudo, exatamente tudo, entre o qualquer coisa e o etc...
Dedicatória: "Samyr" Mymy "Biscoito"

Um comentário:

Ka disse...

"viver é etcétera", já dizia guimarães rosa. por que amar não o seria? ele [o amor] abre portas [e janelas, buracos nas paredes e nas telhas] pra todo tipo de sinestesia: os olhos falam, a boca toca, as mãos vêem. Alé de deixar marcas de dentes sem mesmo eles terem sido cravados.

uma boa crônica, rapaz! me cheira a delicadeza...





[ps: consegui!]